Coisa de preto: vereador de SP deixa vazar áudio

Caso de racismo aconteceu durante sessão da CPI dos Aplicativos na Câmara dos Vereadores de SP

O vereador Camilo Cristófaro (PSB-SP) é alvo de uma denúncia de racismo após um áudio vazado durante uma sessão legislativa da Câmara de São Paulo. No áudio, Cristófaro diz: “Não lava nem a calçada, é coisa de preto, né?”.

A declaração foi feita durante a sessão da CPI dos Aplicativos, na Câmara Municipal.

Logo após a fala vazada de Camilo Cristófaro, o presidente da CPI, Adilson Amadeu (União Brasil) pediu que o som fosse desligado, em referência aos vereadores que participavam de forma remota. A vereadora Luana Alves de opõe ao pedido e, em seguida, a sessão é suspensa.

Na retomada dos trabalhos, a vereadora Luana Alves (PSOL), que é negra, declarou que Cristófaro foi “extremamente racista”.

“Infelizmente nós temos a sessão completamente tumultuada por um áudio que tem a voz do vereador Camilo Cristófaro, que acaba de proferir uma frase extremamente racista. Eu queria não acreditar que essa fala existiu, mas infelizmente existiu. Conversamos ali atrás, queria pedir à secretaria da Mesa das notas taquigráficas. Ficará registrado. Ficou acordado que todos aqui são testemunhas para todas as ações que venham a ocorrer se ficar comprovado que é do vereador Camilo Cristófaro, como parece ser”, disse Luana Alves.

Em nota, o PSB informou que Cristófaro está em processo de desfiliação do partido desde 28 de abril. “Ele pediu a desfiliação alegando que tem pensamentos diferentes em relação aos defendidos por nós, do PSB. Cabe ressaltar que repudiamos veementemente qualquer declaração preconceituosa.”

Luana Alves já adiantou que entrará com uma representação na corregedoria da Câmara para que Cristófaro seja investigado pela casa. “Na hora, a gente fica muito surpresa, muito doída, mas, infelizmente, não é a primeira vez que acontece na Câmara Municipal de São Paulo. E nós, no nosso mandato, estará entrando na Corregedoria buscando a punição deste vereador”, declarou a vereadora.

“A gente não admite fala ou comportamento racista, em especial na casa do povo, em especial a população negra e trabalhadora de São Paulo.”

Investigação e repercussão

Em nota, o presidente da Câmara, Milton Leite, lamentou o episódio e prometeu que o caso será apurado pela corregedoria. “É com uma indignação imensa que lamento mais uma denúncia de episódio racista dentro da Câmara de Vereadores de São Paulo, local democrático, livre e que acolhe a todos”, afirmou.

“Como negro e presidente da Câmara tenho lutado com todas as forças contra o racismo, crime que insiste em ser cometido dentro de uma Casa de Leis e fora dela também. O caso será apurado pela Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo.”

Pouco antes de o caso repercutir na imprensa, o vereador gravou um vídeo dentro de uma concessionária de carros e enviou para o grupo dos vereadores da Câmara.

No vídeo, ele reconhece o áudio, mas diz que a fala se referia aos carros pretos, “que são f… para lavar”. Cristófaro mostra o chão molhado da loja e diz que se referia ao lugar.

“São 11h20 da manhã e estou fazendo uma gravação aqui. Estou dizendo exatamente que esses carros pretos dão trabalho. Que os carros pretos são f… Estou dizendo aqui que não é fácil para cuidar da pintura. Então, se a vereadora Luana olhou pro outro lado, 70% das pessoas que me acompanham, vereadora, são negros. Então, a senhora não vêm com conversa. Olha só, estão lavando aqui, oh. Estou dizendo que carro preto dá trabalho, que carro preto é f… dão mais trabalho para polir. Se a senhora quer levar para outro lado, pra fazer campanha política, nas minhas costas não vai fazer” 

Outra acusação por racismo

Em 2019, o vereador Camilo Cristófaro protagonizou outro caso de racismo na Câmara Municipal de São Paulo. Na ocasião, ele chamou Fernando Holiday de “macaco de auditório”.

“Gostaria de falar que lamentavelmente o senhor Fernando Holiday usa as redes sociais, que ele é o grande macaco de auditório das redes sociais”, declarou em 2019, no plenário da casa. Na época, Holiday também acusou Cristófaro de ter dito que ele precisava “comer banana”.

Após a declaração, Camilo Cristófaro disse à Folha de S. Paulo que não quis ofender o colega. “Não vem me chamar de vagabundo. Para mim, é macaco de auditório do Chacrinha. Só quer aparecer. Racista? Ele diz isso para aparecer. Tenho branco, preto, índio e japonês no meu gabinete. Isso é conversa para boi dormir”, disse o vereador na ocasião.

No dia do ocorrido o presidente da Câmara, Milton Leite, lamentou o episódio e prometeu que o caso será apurado pela corregedoria. “É com uma indignação imensa que lamento mais uma denúncia de episódio racista dentro da Câmara de Vereadores de São Paulo, local democrático, livre e que acolhe a todos”, afirmou. “Como negro e presidente da Câmara tenho lutado com todas as forças contra o racismo, crime que insiste em ser cometido dentro de uma Casa de Leis e fora dela também. O caso será apurado pela Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo.”

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