Contrariando as expectativas, Covid não se espalhou pela África como esperado
Cientistas querem saber por que a Covid não se espalhou pela África Subsaariana
Com poucas mortes por Covid-19 e pouquíssimos casos registrados, os cientistas estão curiosos para saber o motivo de a doença não ter devastado o continente africano como foi previsto no início da pandemia.
Em artigo do The New York Times publicado pelo jornal O Globo, a jornalista Stephanie Nolen destacou que em Kamakwie, cidade de Serra Leoa, só foram registrados 11 casos da doença desde o início da pandemia e nenhuma morte. Inclusive, a jornalista cita que a porta da ala de isolamento do hospital regional está trancada e que na instituição, as enfermeiras estão mais ocupadas no cuidado com pacientes que contraíram malária.
Para os cientistas, o fato de países da África Ocidental e Central não terem registrado um grande número de hospitalizações e portes por Coronavírus é um mistério. O fato de muitos países da região terem um sistema de saúde fraco e sofrerem com a alta prevalente de malária, HIV, tuberculose e desnutrição parecia ser um agravante para que a Covid-19 se espalhasse rapidamente e deixasse milhões de vidas em risco.
O texto afirma que já está cientificamente comprovado que o vírus se espalhou amplamente pela África e estudos comprovam que cerca de dois terços da população, na maioria de países da África Subsaariana, possui anticorpos. Uma análise não revisada da Organização Mundial da Saúde mostrou que 65% dos africanos foram infectados pela Covid no terceiro trimestre de 2021.
Uma das hipóteses levantadas pelos cientistas para tentar justificar as baixas taxas de contaminação está relacionada a média de idade da população, que é de 19 anos. Quase dois terços da população na África Subsaariana têm menos de 25 anos e apenas 3% tem 65 anos ou mais. Os cientistas consideraram o fato de os jovens serem, na maioria das vezes, assintomáticos. Além disso, as altas taxas de temperatura e a vida ao ar livre na maioria do tempo podem estar impedindo a propagação do vírus.
Apesar das hipóteses parecerem justificar a baixa taxa de contaminação, elas podem ser contestadas pelo fato de países do Sul e Sudoeste da Ásia, como a Índia, que tem uma população jovem e temperaturas relativamente altas, passarem por altas taxas de contaminação e morte com a chegada da variante Delta. Foram milhões de pessoas vitimadas. No país, as taxas de mortalidade são bastante altas.
Uma outra teoria levantada é a de que as mortes por Coronavírus não são contadas em África e pouquíssimos testes são realizados. Mas cientistas que acompanham a pandemia na região discordam porque acreditam que não é possível que centenas de milhares de pessoas tenham morrido sem que as mortes fossem percebidas. O ministro da Saúde de Serra Leoa, Austin Demby, é epidemiologista e afirma que desde o ebola, as pessoas estão em alerta para novos agentes infecciosos e que está claro que um grande número de pessoas não chegava aos hospitais com problemas respiratórios.