Cresce parcela da população que se declara negra no Brasil, segundo IBGE

Resultado pode ser atribuído às políticas de ação afirmativa e também aos debates propostos pelo movimento negro

A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada revelou um aumento na população que se autodeclara negra e uma redução na que se identifica como branca. Segundo a pesquisa, em 2018, a população branca representava 43,1% , a parda 46,5% e a preta 9,3%. Os registros do IBGE apontam que, se comparado com os últimos seis anos, a população que se declara negra aumentou em 4,7 milhões. Isso significa que no ano passado 19,2 milhões de pessoas passaram a se entender como negras.

Maisa Carvalhal é negra, advogada e atua em diferentes frentes de combate ao racismo. Para ela, os dados do IBGE mostram uma tendência positiva da autoafirmação preta que está relacionado ao papel das políticas de ação afirmativa e também dos debates propostos pelo movimento negro na sociedade brasileira.

“Eu acho que o papel do movimento negro e das ações afirmativas possibilitaram que o negro tomasse uma consciência de si mesmo. Seja uma consciência de raça, seja uma consciência de como o racismo opera na vida dele, inclusive na negação da identidade. Esse autorreconhecimento se deu por um estudo da História, de um reconhecimento do papel do racismo na nossa formação social brasileira que veio também nesse bojo do estudo de  África nas escolas, junto das ações afirmativas das cotas raciais em concursos nas universidades”, destaca.

Desafios

A PNAD Contínua utiliza o método de percepção de cor e raça do entrevistado, ou seja, a autodeclaração. Para Carvalhal, os números trazem avanço, principalmente no que tange ao processo de ressignificação do negro na sociedade brasileira, contudo, ainda mostram que o caminho para o combate ao racismo, principalmente no atual contexto político do país, exigirá mais ímpeto para que as conquistas obtidas não sejam perdidas.

“Chegamos numa dimensão, num status, que dificilmente vamos retroagir a ponto dessa população, que se autodeclara negra, dizer ‘não sou mais negro’, dificilmente vai existir essa possibilidade, mas essa dimensão da disputa política trará repercussões, porque o desmonte das políticas pode não só dificultar o acesso, mas também o debate qualificado sobre ser negro numa sociedade racista e sobre o racismo estrutural. Todos esses ganhos foram resultado de muito debate na sociedade civil, disputa por representatividade no Congresso e no Senado.Tudo isso contribui para um estado de coisas que dá um salto de qualidade sobre o que é o racismo estrutural”, explica.

O Brasil de Fato contatou o IBGE para comentar sobre a pesquisa. Por e-mail a assessoria da instituição respondeu que não teria como aprofundar no tema e que o crescimento apontado é especulativo.

Edição: Mariana Pitasse

Fonte: Brasil de Fato

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