Descanse como Rei, Pelé!
Perdemos o maior jogador de futebol da história do mundo. Negro e brasileiro, aos 82 anos, Pelé encerra seu legado.
Após um longo tratamento contra o câncer e uma última internação de 24 dias, Edson Arantes do Nascimento morreu ontem, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele deixa sua companheira Márcia e sete filhos. Mas Pelé e seu mito, como eles muitas vezes, seguem completamente vivos.
Ele enfrentava a partida mais difícil de sua vida e como em toda sua trajetória resistiu heroicamente.
Nossa homenagem hoje é por meio da capa da nossa Revista Raça, que assim como ele representam o nosso povo, nossa cultura e nossa cor.
Sua História
Nascido na cidade mineira de Três Corações, Pelé vem de uma família humilde e ainda na infância, ao ver o pai, o ex-jogador José Ramos do Nascimento, o Dondinho, chorar após a derrota da seleção brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, o pequeno Edson promete que conquistaria o primeiro Mundial do país.
Seus primeiros passos no esporte foram dados na cidade paulista de Bauru, para onde a família dele se mudou durante sua infância. Lá defendeu várias equipes amadoras de futebol de campo e salão, até que, ao completar 15 anos, foi levado para fazer um teste no Santos. Aprovado, foi contratado em junho de 1956 e começou a defender a equipe da Vila Belmiro.
No Santos, onde logo se tornou uma máquina de gols, garantiu a primeira convocação para a seleção brasileira em 1957 para participar da Copa Roca. As conquistas foram ininterruptas desde então.
Política e Racismo
Aos 30 anos, após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México, Pelé decidiu se aposentar. Justamente quando vivia seu melhor momento da carreira. Sua intenção era continuar jogando pelo Santos, com quem tinha contrato até 1974, mas também queria se arriscar como empresário.
Quando deixou a seleção brasileira, em 1971, Pelé bateu de frente com diversos políticos do regime militar, enfrentou poderosos dirigentes esportivos, como João Havelange, e ainda teve de lidar com racismo de parte da opinião pública, que tomou as dores do governo militar e passou a tentar apresentar Pelé como uma pessoa gananciosa, que havia deixado a seleção brasileira para ganhar dinheiro.
O jornal Cidade de Santos publicou uma série de charges contra Pelé, assinadas por J.C. Lôbo, algumas preconceituosas, apresentando o Rei do Futebol como vendedor de refrigerante no estádio, por exemplo. “Foram muitas charges e comentários racistas. O Pelé, ao querer contribuir para a sociedade como empresário, no fundo a interpretação é essa: o lugar do Pelé é no campo jogando bola, uma maneira de designar o lugar do negro na sociedade”, opinou o historiador José Paulo Florenzano.
Antes de Messi ou Ronaldo, o mundo do futebol conheceu sua estrela maior: Edson Arantes do Nascimento, ou, simplesmente, Pelé.
Ele foi imortalizado na história e nos corações de todo o mundo. Então, assim como sua majestade desejamos que ele descanse como um rei.