Desigualdade racial em 1 ano de pandemia

Dia 11 de março de 2021 marca um ano em que a Organização Mundial de Saúde reconheceu que o mundo estava diante de uma pandemia de coronavírus. Até o momento, 118.119.333 pessoas foram infectadas e 2.621.944 morreram em todo o planeta. No Brasil, 270.656 mortes e 11.202.305 casos confirmados, sendo a maioria homens negros, de acordo com levantamento de novembro de 2020.

No início da pandemia no Brasil, aparentemente todos estavam expostos ao vírus de igual forma, inclusive os primeiros casos sendo registrados por pessoas de alto poder aquisitivo, famosos e recém-chegados de viagens internacionais. Mas não demorou muito para que a população mais vulnerável sofresse em maior proporção os impactos negativos da doença.

Até 11 de abril do ano passado, o Ministério da Saúde não fazia o registro de etnia nos casos positivos de Covid-19 no país, o que pode maquiar os números no início da pandemia. a coleta destes dados só iniciou após carta enviada ao órgão, pela Coalizão Negra por Direitos composta por 150 entidades. Além da cor, a coalizão solicitou registro de gênero e bairro dos infectados, o que mostrou a desigualdade.

A análise da Agência Pública mostrou que a cada três pacientes negros internados por Covid-19, há uma morte, enquanto entre brancos a proporção é de uma morte a cada 4,4 hospitalizações. Em São Paulo, dos dez bairros com maior número absoluto de mortes, oito têm mais negros que a média municipal, sendo bairros periféricos.

Dados do levantamento da ONG Instituto Polis, que analisou casos da cidade de São Paulo entre março e julho de 2020, confirmaram que homens negros são os que mais morrem pela covid-19 no país, sendo 250 óbitos a cada 100 mil habitantes. Entre os brancos, são 157 mortes a cada 100 mil. Entre as mulheres a tendência se repete: as que têm a pele preta também morreram mais, sendo 140 mortes por 100 mil habitantes, contra 85 por 100 mil entre as mulheres brancas.

Até o momento, ainda não foi identificado se componentes genéticos potencializam o risco da população negra ser mais afetada pelo coronavírus. No entanto, estudos antigos comprovam que existe entre nossa população maior predisposição à hipertensão e diabetes, duas das condições que aparecem como comorbidades em vítimas de Covid-19.

Além destas condições, os fatores que vulnerabilizam a comunidade negra ao coronavírus são sociais. Segundo dados do IBGE, 75% da população mais pobre é composta por negros. Sendo assim, existe menos acesso a saneamento, habitação em locais mais concentrados e menos condições de trabalhos formais, o que expõe ainda mais aos riscos da falta de isolamento social.

No portal da Universidade Federal de Minas Gerais, o médico infectologista e professor Unaí Tupinambás, explica os efeitos da desigualdade social e econômica. “Durante a pandemia, a desigualdade foi escancarada. A mortalidade da população negra é muito mais alta, não só no Brasil, mas também na Europa e nos Estados Unidos. Claro que nós temos que considerar aqueles determinantes sociais da doença, que são muito importantes para a evolução de qualquer doença. A população negra e periférica tem condições de saúde muito mais precárias”, analisa.

“Eles moram em condições precárias, trabalham em condições precárias, não podem fazer trabalho remoto e têm que sair de casa para ganhar o pão, pegam transporte público inadequado… Claro que vai impactar mais, infelizmente, nessa população negra e periférica“, esclarece.

África – situação alarmante

Há um ano, o continente africano vinha sendo alvo de preocupação dos ativistas negros, mas se mostrava seguro enquanto o contágio atingia mais outras localidades. Atualmente, entretanto, a curva está se acentuando no continente. A taxa de mortalidade de casos de coronavírus da África está em 2,5%, mais alta do que o nível global de 2,2%.

O chefe do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC), John Nkengasong, informou à imprensa mundial. “A taxa de fatalidade está começando a ficar muito preocupante e inquietante para todos nós… O número de nações africanas com uma taxa de mortalidade maior do que a média global atual está aumentando,”, disse no final de janeiro.

Em todo o continente, há 21 países com taxa de mortalidade superior a 3%, entre eles Egito, República Democrática do Congo e Sudão.De acordo com a Reuters, ocorreram pelo menos 4.023.000 infecções e 106.000 mortes registradas causadas pelo novo coronavírus na África até agora.

Os cuidados devem continuar

Mesmo um ano após o reconhecimento da pandemia, o vírus está distante de acabar. No Brasil, menos de 4% da população foi vacinada, sendo negros, a minoria. Os cuidados não podem ser mais negligenciados. Abaixo algumas lições que aprendemos durante a pandemia e que devem permanecer durante o cenário atual

  • Uso de máscaras faciais
  • Cuidado redobrado em todas as idades. Desmistificando que a doença atinge apenas idosos
  • Em qualquer sinal de sintomas, buscar atendimento médico
  • Uso de álcool gel para higienizar as mãos em ambientes fora de casa
  • Isolamento social ainda é o principal meio de combate
  • Não tomar remédios sem eficácia comprovada, como hidroxicloroquina  
  • Mesmo se já infectado, o organismo não produz resistência, podendo haver reinfecção.

Comentários

Comentários

About Author /

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?