Divas negras que passaram pelo Brasil
Grandes estrelas da música, da dança e do cinema subiram aos palcos das mais importantes casas de espetáculo do país, levantaram plateias e deram ainda mais brilho a momentos áureos na área cultural. Conheça um pouco mais sobre algumas das mais importantes divas negras que passaram pelo Brasil
TEXTO: Sandra Almada | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
LENA HORNE
Não foi do café, não foi do Pelé, nem do carnaval, foi da Bossa Nova que mais gostei no Brasil.” A declaração é da atriz negra americana Lena Horner, dada aos jornalistas da revista O Cruzeiro, durante entrevista concedida no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, em 1960. Horne estava em turnê no país, e, naquele dia, também confessaria aos profissionais de imprensa quem era seu grande ídolo no Brasil: o jovem compositor e cantor João Gilberto, não muito conhecido naquela época.
Os jornalistas se apressaram em aproximar os dois artistas. Foi um encontro de talentos que trouxe grande felicidade à estrela. Lana, aliás, não vivia uma boa fase na vida pessoal e profissional quando chegou aqui. Apesar de viajar ao lado do marido, não estava bem no casamento. “Sua carreira estava em fase difícil, uma vez que, depois de ser acusada de ser esquerdista pelo Comitê de Atividades Antiamericana, ficou sem trabalho no cinema. Com isto, a artista tinha que se manter para arrecadar dinheiro e já havia quatro anos que não fazia um filme”, diz Evânio Alves, autor do livro As divas no Brasil. Mas os brasileiros amaram a voz aveludada e a presença cativante desta mulher talentosa, delicada e guerreira.
JOSEPHINE BAKER
Era o ano de 1929. O ator Grande Otelo, então um menino de 11 anos, conseguiu driblar a segurança do teatro do Lord Hotel, em São Paulo, onde a americana Josephine Baker se apresentava. Ele, assim como centenas de pessoas, queria ver a “Vênus Negra”. Assim a artista ficara conhecida, depois que seus shows no Folies- Bergère, em Paris, a lançaram para o sucesso mundial como uma das rainhas do vaudeville. A americana radicada na França tinha 20 anos e chegava ao Brasil na sua primeira turnê internacional. Antes de subir ao palco, em São Paulo – onde foi censurada pela Igreja por apresentar-se praticamente nua – Miss Baker havia feito shows no Teatro Cassino, no Rio de Janeiro. Dez anos depois, em 1939, ela e Otelo dividiriam o mesmo palco, como protagonistas do espetáculo Casamento de Preto.
Tão talentosa quanto intempestiva, Josephine aprontou muito por aqui. Mas outro lado da artista também deve ser destacado: o compromisso assumido ao longo de toda a vida com a defesa dos direitos humanos, principalmente através da luta racial. “Após abandonar o seu país, voltou lá por duas vezes e nestas duas visitas sofreu terríveis atos de preconceito. Apesar do sofrimento pela humilhação, Josephine nunca baixou a cabeçae, como exemplo, adotou 12 crianças de nacionalidades diferentes para mostrar que a humanidade podia viver em harmonia”, conta Evânio
ELLA FITZGERALD
Marylin Monroe, nem todos sabem, teve papel decisivo na carreira da mundialmente famosa Ella Fitzgerald. “Ainda no início de estrada desta notável cantora afro-americana, Marilyn propôs ao proprietário do famoso e bem frequentado restaurante Mocambo, em Nova Iorque, que contratassem Ella para se apresentar lá. Marylin ocuparia uma mesa todasas noites.” E assim a atriz o fez, ajudando a alavancar a frequência da casa para tornar mais conhecida uma das maiores divas do jazz. Miss Fitzgerald chegava ao Brasil em 1960, e, por aqui, a repercussão de sua visita e turnê foi estrondosa. Ibrahim Sued, um dos maiores nomes do jornalismo na época, não poupou elogios: a apresentação da diva no Golden Room do Copacabana Palace estava entre as mais espetaculares que já assistira. A estrela negra também se apresentaria em São Paulo, no palco do teatro do Hotel Jaraguá. Outro grande sucesso. Ella voltaria ao Brasil 11 anos depois. Em 1981, dedicaria um disco a Tom Jobim, interpretando magistralmente as canções do artista brasileiro, que muito admirava.
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