EDUARDO DE OLIVEIRA E O MOVIMENTO NEGRO

Veja a luta do militante negro, professor Eduardo de Oliveira

 

TEXTO: André Rezende | FOTO: Rafael Cusato | Adaptação web: David Pereira

O professor Eduardo de Oliveira | FOTO: Rafael Cusato

O professor Eduardo de Oliveira | FOTO: Rafael Cusato

Poeta, jornalista, escritor, primeiro vereador negro da cidade de São Paulo, presidente e principal articulador do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB), autor do Hino à Negritude – cântico à Africanidade Brasileira e um dos mais atuantes membros do movimento negro do Brasil. Uma voz da consciência e da liberdade que deixa um grande legado, além de uma enorme saudade.

No dia 15 de julho de 2012 faleceu em São Paulo, uma das mais importantes lideranças vivas doMovimento Negro Brasileiro, o professor Eduardo Ferreira de Oliveira, aos 86 anos, vítima de insuficiência renal.

O professor Eduardo – como carinhosamente o chamávamos – era diferente, se comparado a outros militantes que eu conhecia, cheios de reivindicações e discursos inflamados. Não que suas palavras amenizassem todos os problemas e injustiças enfrentados pelosnegros brasileiros, longe disso. Na verdade, ele era um dos que mais combatiam o racismo e o preconceito (de todos os tipos) em nossa sociedade. A diferença, creio, estava em sua postura, na forma como se fazia ouvir. Sensibilidade à flor da pele! Passou parte de sua vida sem saber direito o que era ser negro e sua condição após a abolição da escravatura. Só tomou consciência de sua cor e de sua origem quando foi internado no Educandário Dom Duarte, da Liga das Senhoras Católicas. Os primeiros ensinamentos vieram na forma de preconceito. Em dia de visita, os pais de seus colegas de escola evitavam se encontrar com o seu tutor branco, Francisco Salles Prudente Corrêa, por causa da presença do jovem Eduardo. Foi o diretor do educandário, Hugo Fagundes Varela (sobrinho-neto do poeta Fagundes Varela) que lhe alertou sobre a dura realidade. “Ele falou sobre a importância da minha raça e que eu, com o meu talento para a música, deveria fazer um cântico ou um poema para enaltecer o meu povo”, disse o professor, em dezembro de 2009, quando tive o prazer de conhecê-lo durante sua visita ilustre na redação da RAÇA BRASIL. Do toque do diretor nasceu a ideia de valorizar a sua gente e, os 16 anos, ele escreveu a letra e a música do Hino à Negritude – Cântico à Africanidade Brasileira, hoje oficializado em várias cidades e estados do País por sua importância na luta contra o racismo.

E lutar foi uma constante na vida do professor Eduardo, até mesmo contra parte do movimento negro. “Quando me chamaram para participar da Associação Cultural do Negro, que ajudei a fundar, eu achei interessante, porque eram os ‘neguinhos’ me chamando. Como eu já tinha escrito um livro de poesia (Além do pó, em 1958), eles ficaram impressionados, pois naquele tempo não era comum um negro ser escritor, mas comecei a entrar em conflito com alguns membros da comunidade. Eles diziam que o meu livro não tinha nada a ver com o negro e não falava sobre o negro.” Eis aí outra característica marcante da personalidade do professor. Acima de tudo, era uma pessoa da paz, um humanista-pacifista que vislumbrava uma sociedade livre de guerras, desentendimentos políticos e quaisquer outras mazelas que atiçavam o homem contra o próprio homem. Seu espelho maior nesse sentido foi nada mais nada menos que Martin Luther King.

E foi a partir da década de 1960 que o professor começou a exercer, de fato, a sua militância, sempre com grandes desafios. “Conclui a Direito em 1973. Me formei com 47 anos, porque tudo para o negro é mais difícil.” Difícil sim, mas nunca impossível. E baseado nisso ele seguiu em frente, escreveu outros livros, proferiu diversas palestras e se empenhou ao máximo durante quase 20 anos pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, mesmo que o documento tenha saído com algumas ressalvas. Para ele, o mais importante nesse caso era ocomeço de uma mudança necessária no tratamento (e nos direitos) dado aos negros. “Vejo algumas pessoas lamentando que o Estatuto é uma coisa pequena, mas é importante dizer que é muito melhor 60% de alguma coisa, do que 100% de nada. Ele servirá como instrumento de abertura muito grande para mudarmos nossas vidas”, alertava, com grande otimismo.

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