Elza e Renegado

Gerações que se encontram pela música e pela vida

Juntos, eles fizeram um manifesto antirracista que escancara as injustiças sociais e as dificuldades que pessoas negras precisam atravessar para viver com dignidade. Interpretada por Elza Soares (91) e Flávio Renegado (39), Negrão Negra é uma canção forte, que mostra a coragem e a resistência da população afro-brasileira ao reunir uma mulher tão icônica que encanta gerações e um cantor jovem que através da música trabalha para transformar o futuro.

Elza e Renegado realizaram juntos uma live-show no Theatro Municipal de São Paulo, em maio de 2021. Assim como esse encontro de gerações, nosso encontro com os dois gerou reflexões e ensinamentos que ouvimos da nossa cantora do milênio e desse músico que carrega a arte das palavras.

Acompanhe nosso bate-papo com Elza Soares e com Flávio Renegado.

Raça: O que você diria para as mulheres que hoje lutam por empoderamento?

Elza Soares: O sentido da palavra empoderamento é muito mais importante que uma simples expressão. É dar o direito de nós, das mulheres, dos pretes (sic), das comunidades, ao poder da dignidade, porque quando temos dignidade, acesso, respeito, a gente se sente mais segura para fazer da vida o que a gente quiser fazer. Então eu digo: mulheres, já chega de sofrer caladas. Vamos lutar dia a dia pelo direito que é nosso e não pode ser menor do que o direito de ninguém.

Raça: Qual a sensação de ser um símbolo de resistência e um ídolo para tantas pessoas de diferentes faixas etárias?

Elza Soares: Não me vejo nesse lugar de símbolo. Vou em frente sem olhar para trás, sem ficar no espelho pensando como seria se eu não fosse mulher preta de comunidade. Eu vou para frente, porque eu amo ser mulher, ser preta, amo minha origem, amo as lutas que travei na vida e levo firme até hoje. Amo minhas cicatrizes. Como eu canto na música “Na Pele” com a Pitty: “se essas são marcas externas, imagine as de dentro”.

Eu resisto pela minha gente, pelo povo brasileiro, pelas mulheres daqui e do mundo. Eu resisto por mim, por minha família, pelos meus amigos, pelos meus fãs e até por quem não me escuta, porque eu só acredito nisso, direitos e dignidade para todas e todos sem distinções. Eu sou da moçada. Eu canto e protesto para o jovem, tenha ele qual idade for. É uma responsabilidade daquelas ler que você é ídola (sic) de alguém. Não posso decepcionar as expectativas de quem me enxerga assim. A bem da verdade é que ídolo para mim é o povo brasileiro, que sofre, luta, passa cada perrengue, mas se supera, reinventa e retoma o poder através do voto, toda vez que esse poder nosso é tirado de nós. Ídolo mesmo é o povo, não acha? E eu sou parte do povo, então aceito, respeito e trato com muito cuidado esse título.

Raça: Quais foram os artistas que te inspiraram quando você iniciou sua carreira?

Elza Soares: Muita gente me inspirou. Quando comecei era raro ver um preto, principalmente uma mulher preta, recebendo o merecido reconhecimento. Eu queria ter tido o direito de ver mais artistas negros inspirando a gente quando comecei.. Eu te diria uma lista de cantoras que me inspiraram. Aquelas preciosidades do rádio,  as rainhas do rádio. Mas eu vou usar essa entrevista nesta revista tão importante como sempre foi e que agora tem um papel mais importante ainda, para protestar silenciosamente não citando o nome de nenhum artista, em respeito aos milhares de artistas negros que não tivemos oportunidade de conhecer por conta do racismo estrutural. Minha inspiração foram elas e eles que não tiveram a mesma sorte que eu.

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