Em cinco anos, Estado tem 266 vítimas de preconceito racial

Caso de jovem negro morto por segurança em supermercado causou indignação e protestos no último domingo(17)

Nos últimos cinco anos, entre 2014 e 2018, 266 pessoas foram vítimas de preconceito de raça ou de cor no Estado do Rio de Janeiro, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública). Um caso recente, na última quinta (14), vem causando grande repercussão e foi alvo de protestos neste fim de semana, que apontam que o episódio configuraria racismo estrutural. O jovem negro Pedro Gonzaga foi morto com um mata-leão pelo vigilante Davi Ricardo Moreira Amâncio, no supermercado Extra da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Neste ano, o Disque Denúncia recebeu cinco denúncias de casos de discriminação racial. No ano passado, haviam sido 29 denúncias, enquanto, em 2017, haviam sido 16. Segundo o Atlas da Violência de 2018, em um período de uma década, entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve redução de 6,8%. Além disso, a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras.

O vigilante afirma que atacou o jovem negro porque ele teria tentado se apossar de sua arma. A situação foi filmada e clientes do mercado chegaram a comentar que a vítima estava ficando roxa. A mãe do jovem estava presente no local e gritava por socorro.

De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital, Davi Ricardo foi preso em flagrante por homicídio culposo. O vigilante, no entanto, foi solto após pagar fiança. No dia seguinte, o mercado divulgou uma nota de esclarecimento em sua rede social. “Com relação ao lamentável episódio ocorrido na tarde da última quinta-feira (14) no Hipermercado Extra Barra, a Rede vem a público reiterar que não aceita qualquer ato de violência”, escreveu.

“Um grave fato ocorreu na loja do Extra e a Rede não vai se eximir das responsabilidades diante do ocorrido, sendo a maior interessada em esclarecer a situação o mais rápido possível. Desta forma, está colaborando com as autoridades e contribuindo com todas as informações disponíveis”, continuou.

Segundo a nota, os seguranças envolvidos no caso foram afastados e a companhia instaurou uma sindicância interna para acompanhamento junto à empresa de segurança e aos órgãos competentes do andamento das investigações. “Acrescentamos que, independentemente do resultado da apuração dos fatos, nada justifica a perda de uma vida e a Companhia se solidariza com os familiares”, completou.

Além do ato no Rio de Janeiro, outros protestos ocorreram em filiais de São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Ceará. As hashtags #VidasNegrasImportam (em alusão ao movimento americano Black Lives Matter) e #ACarneMaisBarataDoMercado (em alusão a música “A Carne”, de Elza Soares) também foram muito usadas nas redes.

“O ato tinha um propósito muito claro de denunciar a estrutura racista do Estado brasileiro. Estava vinculado ao caso do Extra, mas foram denunciadas violações de modo geral”, foi assim que a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL) definiu o protesto que de domingo.

“Acho que foi um ato importante para uma situação que é bem grave no Brasil que é o dado de genocídio da juventude, em especial da juventude negra”, continuou a parlamentar em entrevista ao Destak. “O ato foi cheio para um domingo na Barra, que é uma parte da cidade distante da média da população. Foi um ato com figuras importantes. Tiveram artistas, cantores, lideranças políticas de diversos mandatos e diversos movimentos sociais de um modo geral, em especial coletivos do movimento negro”, completou.

Segundo a deputada, além de carro de som, as intervenções que ocorreram nas ruas e dentro do mercado fizeram com que o protesto tivesse um caráter lúdico. “Pedro Gonzaga foi um jovem de 19 anos morto numa situação de completa brutalidade, de despreparo inclusive para atuar com o público, isso não existe como um caso isolado”, ressaltou a política, que completou: “Embora exista a ideia de que o segurança precisa ser punido, precisa ser julgado, não é essa a central da questão”.

Perguntada sobre como avaliava a repercussão do caso que gerou manifestações em outros Estados, Dani Monteiro falou que situação reflete um problema nacional. “A central da questão é a denúncia de uma estrutura e essa estrutura é nacionalizada, então repercutir em outros Estados passa pelo entendimento que casos como o do Pedro acontecem todos os dias em outras situações ou até situações como essa, mas que talvez não foram na frente da câmara, na fila do mercado”, completou.

 

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