Embaixatriz do samba
Conheça a história da embaixatriz do samba
Texto: Oswaldo Faustino | Foto: Divulgação | Adaptação web Sara Loup
Graças a uma jovem cantora negra de sorriso lindo, chamada Carmen Costa, que gravou valsa em seu primeiro LP, em 1942, e que se tornou sucesso em todos os carnavais que se seguiram. Para mim, a interpretação de Carmen para Está chegando a hora só é superada pela versão suingada de Wilson Simonal.
Relendo uma edição antiga da RAÇA BRASIL, encontrei a história de luta, sofrimentos e superações dessa cantora cujo nome verdadeiro era Carmelita Madriaga, nascida em 1920, na cidade fluminense de Trajano de Moraes, onde seus pais eram agricultores, trabalhando numa fazenda como meeiros, e falecida no Rio de Janeiro em 2007, aos 87 anos. E acho bem legal recordá-la.
Ainda menina, Carmelita trabalhou de empregada doméstica na casa de uma família protestante e se encantava com os hinos religiosos. Ali, começou a exibir a sua voz potente, levando os patrões a acreditarem que seria solista nos louvores religiosos. Mas não, aos 15 anos já estava no Rio, faxinando a casa do “rei da voz” Francisco Alves e frequentando os programas de calouros, como o de Ary Barroso, do qual um dia saiu vencedora.
O compositor Henricão (Henrique Felipe da Costa), com quem ela viveu e formou dupla por muitos anos e com quem gravou, entre outros sucessos, Casinha da Marambaia, sugeriu a mudança de nome para Carmen Costa. Separaram-se na primeira metade dos anos 40 e, em 1945, Carmen se casou com o norte-americano Hans Van Koehler, e foi viver em Nova Jersey, Nova Iorque e Los Angeles. E como naquela época não existia, nem lá nem aqui, uma Lei Maria da Penha, jamais pode denunciar os espancamentos que sofria por parte do marido.
Se eram tristes muitas das lembranças relacionadas aos Estados Unidos, uma pelo menos foi gloriosa, como a do histórico show de bossa nova no Carnegie Hall, em 1962, do qual participou. Nos anos 50, já de volta ao Brasil, passou a viver com o compositor Mirabeu Pinheiro. Dois lindos produtos dessa união: Silésia, a única filha, e a marchinha Cachaça não é água. Outro grande sucesso da mesma época é o samba-canção Eu sou a outra, que dizia “Ele é casado. Eu sou a outra na vida dele…”, a realidade que ela estava vivendo naquele momento.
A lista de seus sucessos musicais, sambas, choros, marchinhas (como “Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água não…”), chotes, maxixes, frevos, batucadas, sambas-canções, boleros e outros estilos musicais, é imensa. Seu talento também ficou registrado em filmes como Pra Lá de Boa (1949), Carnaval em Marte (1955), Depois Eu Conto (1956) e Vou Te Contá (1958). Enfim, estou aqui apenas tentando revolver a memória da aminésica gente brasileira. Afinal, não é isto que o arado faz na terra em que se deseja deitar sementes? Então, que plantemos muita brasilidade e negritude para que sejam fartas as futuras colheitas socioculturais de nossa gente.
Quer ver esta e outras colunas e matérias da revista? Compre esta edição número 156