Entrevista com a MC Mahogany Jones
Veja trechos da entrevista com a MC norte-americana Mahogany Jones
TEXTO: Daniel Keny | FOTOS: Rafael Cusato | Adaptação web: David Pereira
Hoje popular entre pessoas de diferentes classes sociais e etnias, o hip hop sempre foi reconhecido por ser a resposta dos negros a questões sociais e políticas desfavoráveis. Como todos os outros estilos musicais, sofreu mudanças ao longo dos anos, sem nunca perder, entretanto, a sua verdadeira essência. O autêntico hip hop está ligado a tradições religiosas negras, assim como o blues e a música gospel, e resulta em uma narrativa cheia de ritmo e groove. É essa origem, este estado puro e irretocável, do hip hop que floresce na música da MC Mahogany Jones. A rapper nasceu e cresceu em Nova Iorque, hoje mora em Detroit, no estado de Michigan. Seu interesse pela música surgiu ainda na infância e foi incentivado por sua tia-avó, que chegou a ser vice-presidente da Atlantic Records, uma das maiores gravadoras dos Estados Unidos, e pela própria mãe, que trabalhou para a Warner Brothers e Polygram Records. Sua história dentro da arte começou na poesia e seguiu para o freestyle, por influência de um amigo. O hip hop entrou em sua vida após uma conversa casual com Toni Blackman, ativista da cultura e do estilo em vários países ao redor do mundo, especialmente no continente africano. Encantada com o talento de Jones, a rapper decidiu apadrinhá-la.
A partir daí, sua carreira só cresceu. Em 2008, lançou o álbum “Morphed”, elogiado pela crítica por possuir letras sinceras e profundas e também por sua batida contagiante. “Pure”, seu trabalho mais recente, uniu outros dez artistas para tratar de temas do universo feminino. Paralelamente, Jones estimula jovens em comunidades de Nova Iorque e Detroit a estudarem. “Eu acho importante impulsionar a juventude a contar a sua própria história, gosto de incentivá-los a se expressarem como realmente são. Assim eles identificam o que sabem fazer de melhor, queiram eles viver de música ou política”, diz. A seguir, saiba mais sobre a MC, embaixadora do hip hop e poeta Mahogany Jones!
Veja trechos da entrevista com a MC Mahogany Jones
Onde você nasceu e cresceu?
Eu nasci e cresci em Nova Iorque. Hoje moro em Detroit, Michigan.
Você tem familiares que foram ligados à indústria musical. Como foi estar próxima da música desde tenra idade?
Eu cresci respirando música. Além de estar perto de músicos durante a infância, eu também tive essa proximidade com o lado dos negócios por causa da minha tia e da minha mãe. O curioso é que sempre amei a música, mas não passava pela minha cabeça que um dia eu poderia fazer parte da indústria. Via essa possibilidade como um grande sonho, e não algo palpável. Eu acho que minha carreira deu certo porque realmente amo todos os tipo de música. Eu não gosto só de hip hop, ouço jazz, rock, R&B, samba e até mesmo música country. Voltando à infância, a minha proximidade com a indústria me ajudou a aprimorar o meu gosto musical, me ajudou a apreciar a forma como cada artista conta a sua história e como essas histórias ajudam as pessoas, de uma forma ou de outra.
E quais artistas você gostava de escutar nessa época?
Muitos! Diria que Stevie Wonder, Janis Joplin, Lauryn Hill, MC Life… Claro, Michael Jackson, Madonna, Nirvana, Mary J. Blige e muitos artistas underground de hip hop e rap.
Qual é a verdadeira missão do hip hop para você?
Hip hop é quebrar barreiras, unir pessoas, dar voz aos excluídos, seja por causa da classe social, pela cor ou pela sexualidade. Hip hop é uma voz para aqueles que não possuem voz.
Recentemente, houve no Brasil uma grande onda de manifestações populares, impulsionada pelos jovens. Entre as reivindicações, lutavam pela diminuição da tarifa de transporte público, contra corrupção e por melhorias nas áreas de saúde, educação e segurança. Você acha que a juventude americana está satisfeita com seu país? Quais são os principais pontos de questionamento dos jovens em relação ao governo?
Acho que acesso a educação de qualidade e saúde. Mesmo com o lançamento do Obamacare (programa do governo americano que permite a compra de seguros-saúde online e visa atingir a parcela da população que ainda não conta com o serviço, cerca de 15%), há uma insegurança, muitas pessoas não têm como arcar com o seguro. E é extremamente necessário, afinal, como enfrentar um câncer, como tratar do HIV e outras doenças graves sem um plano de saúde? Os jovens também têm insegurança quanto a conseguirem empregos que os sustentem na fase adulta. As preocupações dos brasileiros e americanos são parecidas, eu acho. Só acho que a nossa juventude poderia ser mais engajada politicamente, e uma das minhas missões como artista é influenciá-los a serem mais ativos e participativos.
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