Ermelino Matarazzo é resistência e arte em movimento

[TEXTO EDIÇÃO 228]

Cultura, arte e educação também são parte da periferia de São Paulo. Considerada uma região “dormitório”, o bairro de Ermelino Matarazzo é muito mais do que um endereço para que trabalhadores da cidade possam descansar no intervalo entre um dia e outro de trabalho. A população de Ermelino, movida pelo desejo dos coletivos culturais da região, de ter um lugar que pudesse oferecer acesso à cultura para o território, conquistou através de muita luta um lugar que deve ser inspiração para outras regiões da capital paulista e, por que não, para outras cidades do país.

O Movimento Cultural Ermelino Matarazzo, também conhecido como Ocupação Cultural Mateus Santos ou
como “Ocupa” para os mais íntimos (moradores do bairro que acompanham a trajetória do movimento desde o início e que se beneficiam do trabalho realizado pelos frequentadores do espaço), foi criado oficialmente em 2016 depois que coletivos da região realizaram um mapeamento de quantos espaços ociosos existiam em Ermelino e porque o território não oferecia nenhuma casa de cultura. Em 2013, depois de identificar um prédio da subprefeitura, que estava abandonado havia 16 anos, os moradores começaram as negociações com o órgão para uso do espaço, mas somente em 2016 passaram a ocupá-lo. Conversando com Gil Douglas, 36, morador de Ermelino Matarazzo e articulador do Movimento Cultural, pudemos conhecer o trabalho dos 75 coletivos e artistas que estão envolvidos com a manutenção do espaço, das atividades culturais e educacionais. A organização é de
responsabilidade da própria população e dos frequentadores, que colaboram com a limpeza, com o fornecimento de materiais para as atividades, com os custos para manutenção dos serviços e até mesmo com o compromisso de oferecer as oficinas de maneira gratuita.

Durante a pandemia, o trabalho da Ocupação esteve dedicado à colaboração assistencial comunitária, distribuindo cestas básicas, kits de higiene e informações acessíveis sobre a prevenção ao coronavírus. Além disso, conseguiram parceria com o dono de um carro de som para informar a população de Ermelino sobre o nível de ocupação dos hospitais da região.

Para continuar mantendo o espaço nesse período, Douglas teve a ideia de levar o trabalho da Ocupa para o ambiente virtual e, para isso, buscou aprender sobre audiovisual. Além disso, criou o programa Ideia Livre, transmitido ao vivo e transformando em podcast.

Moradora e frequentadora do espaço, Natália Santos fala sobre a importância da Ocupação para seu bairro: Douglas conta que, em 2019, o Movimento Cultural de Ermelino Matarazzo realizou 680 eventos, um alto volume de
produção com recursos que muitas vezes são captados através de doações dos próprios frequentadores e, em alguns casos, através da participação em editais, como o de Fomento à Periferia, que contribuiu com a manutenção das atividades, principalmente as de caráter assistencial.

O prédio que é sede do movimento foi batizado com o nome de Ocupação Cultural Mateus Santos, antigo morador do bairro e pintor que, em 1987, já pautava a necessidade de um espaço cultural em Ermelino. Mateus Santos faleceu no início dos anos 2000.

Com cinco anos de existência, a Ocupa vem mantendo seu propósito de um trabalho gerido pelas pessoas que moram no território e para elas. De maneira horizontal, as atividades vêm se estruturando e crescendo diante das dificuldades que se apresentam. Que mais artistas, profissionais do audiovisual, vestibulandos, coletivos e pessoas pretas possam acessar espaços como este que estão em movimento constante para levar acesso e oportunidades a todos.

Acompanhe o trabalho do Movimento Cultural de Ermelino Matarazzo nas redes sociais:

facebook.com/movimentoculturalermelinomatarazzo
Instagram: @movimentoculturalem

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