Espuma de ódio!

No último artigo que escrevi aqui na Raça (11.03), afirmei o seguinte: “Não enxergo no curto prazo, nem no campo da esquerda nem no campo dos movimentos sociais, em particular no movimento negro, nada que indique propostas novas, exequíveis e aglutinadoras para enfrentarmos o tsunami de conservadorismo que se avizinha.”. Confesso que não imaginava que esse tsunami estivesse tão próximo. Mas, os acontecimentos da semana passada no Brasil indicam que a sua velocidade e intensidade é muito maior do que pensávamos e muito mais grave do que acreditávamos.

A espuma de ódio originária do discurso de ódio que vem sendo disseminado a todo vapor pelas redes sociais e pela boca de várias autoridades brasileiras começa a fazer seus efeitos. E lamentavelmente, a Bahia sai na frente dessa corrida conservadora. Dois parlamentares baianos, um Senador do PSD e uma Deputada Federal do PSL apresentaram na semana passada projetos de lei no Senado da República e na Câmara dos Deputados para extinguir com duas das conquistas mais importantes no campo dos direitos sociais que as mulheres e os negros alcançaram na história recente do país: a cota para as mulheres nos partidos políticos e as cotas raciais para o ensino superior.

O senador do PSD justifica a extinção da cota para as mulheres responsabilizando-as pela existência das fraudes nas últimas eleições, por meio das chamadas “candidaturas laranja” e que está sendo investigada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Apresentou o projeto sem citar em nenhum momento que os partidos investigados pelas fraudes são dirigidos em sua grande maioria por homens e que estes foram os grandes beneficiários das referidas fraudes. Já a Deputada do PSL afirma textualmente na sua justificativa de que as cotas raciais criam “artificialmente divisões entre os brasileiros, com potencialidade de criar indevidamente conflitos sociais desnecessários.”. Parece brincadeira, mas não é. O que esses dois projetos evidenciam de forma dura e cruel é a defesa pura e simples dos privilégios da elite branca e conservadora brasileira.

Neste sentido, a escolha dos segmentos a serem atingidos por esta sanha conservadora não poderia ter sido mais emblemática. Afinal, mulheres e negros são dois dos segmentos mais discriminados e violentados em nosso país desde sempre. Ambos têm sido vítimas de verdadeiros tsunamis de ódio ao longo da nossa história. As mulheres por meio da misoginia, do estupro, da violência doméstica e do feminícidio que nos coloca em lugar nada privilegiado no mundo como país dos mais perigosos para as mulheres viverem. Já os negros, por conta das sequelas originárias de quase 400 anos de escravidão continuam a serem as grandes vítimas do racismo, do preconceito e da discriminação que também nos eleva ao patamar de um dos países mais

desiguais do ponto de vista racial no mundo. Mas, para esses parlamentares isso não deve passar de mi mi mi.

Para completar a semana dos horrores, um ano após o assassinato da Vereadora Marielle Franco, finalmente tivemos a apresentação dos dois prováveis assassinos. E o que descobrimos? Que são dois militares, um deles expulso e outro sargento da reserva da (PM do RJ) que moravam num condomínio de luxo, numa casa de quatro milhões de reais, com um salário de 8.000 mil. Mais que isto, um deles foi pego com 117 rifles de assalto (M16), arma privativa das forças armadas americanas, podendo ser o maior traficante de armas do Brasil. Aqui vale o velho ditado popular: “Durma com um barulho desse e diga que passou a noite bem.”

 

É por isto que tenho insistido tanto de que a unidade dos democratas sejam eles de esquerda, liberais ou de centro é fundamental para o enfrentamento desse discurso de ódio.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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