Estilista negra pressiona mercado da moda italiana
Única negra filiada a Camera Nazionale della Moda Italiana (Associação Nacional de Moda Italiana), principal órgão do segmento no país), a estilista Stella Jean tem se colocado à frente da discussão de igualdade racial na indústria local, com o lançamento da campanha Do Black Lives Matter in Italy? (Vidas negras importam na Itália?). Ela prometeu não apresentar sua coleção na semana de moda de Milão, caso não haja comprometimento maior da associação.
De origem haitiana, a estilista disse em entrevista à agência de notícias AP, que é necessária uma longa reforma cultural. Ela espera que marcas como Prada, Ferragamo e Zegna utilizem seu poder e influência para apoiar medidas de igualdade racial na moda e fora dela, com medidas concretas e transparentes. Apesar de seus esforços, o presidente da Camera Nazionale della Moda Italiana respondeu,numa carta, que esse tipo de iniciativa cabe ao “governo e a parlamento”.
“Quando você fala com eles, eles não têm más intenções, eu os conheço. Mas eles dizem algo como: ‘Do que você está falando, Stella? Nunca ouvimos falar de racismo na Itália. Não é uma história italiana, é sobre os EUA, o Reino Unido, outros países. Itália, não’. Minha resposta é: ‘Por que você vê todas essas pessoas preenchendo quadrados de norte a sul deste país para o Black Lives Matter, esta geração inteira de novos italianos invisíveis?”
Criações ofensivas vindas de grandes marcas italianas, como o suéter da Gucci com um rosto branco pintado de preto, ou como os vídeos da Dolce & Gabbana fazendo troça com asiáticos, são resultado, diz Stella, da falta de diversidade nas equipes dessas marcas, algumas delas as mais importantes do mundo. Só neste ano, a Marni, por exemplo, teve que se desculpar por reproduzir imagens de um homem negro com correntes nos tornozelos.
“Esses ‘erros’ ’podem ser mais bem reconhecidos, rotulados e tratados como ‘decisões'”, diz Jean, que tem demandado, junto com o movimento, que as grifes mostrem quantas pessoas negras empregam, principalmente em cargos de liderança e criação.
“Queremos mandar um currículo para um caça-talentos e não vê-lo jogado fora só por sermos negros”, diz Edward Buchanan, estilista que lidera o movimento com Stella.