Eu e os 26 anos da RAÇA Brasil

Por: Carlos Machado

Num país que se diz uma democracia racial mas que na prática nunca deixou de impedir o desenvolvimento, torturar e matar a nossa gente negra das mais diversas formas e nos colocar como cidadãos de segunda classe, se faz necessário ter uma revista como a Raça Brasil. Vivi uma época em que os privilegiados do sistema diziam não haver necessidade de ter uma publicação específica para a população negra e que isso era “racismo ao contrário”. Mas ao ver as bancas de jornais das décadas de 1980 e 1990, a maioria das publicações não retratava nossa gente, algumas, esporadicamente, traziam alguma matéria a respeito do nosso povo preto. A ideologia da democracia racial nos ensinava que não precisávamos lutar por nossos direitos pois isso já estava garantido, o que é uma grande mentira e que alguns e que muitos ainda hoje acreditam nessa farsa.

A Revista Raça é importante porque é um meio de comunicação de nós para nós que traz nossa visão sobre a realidade e os nossos desafios neste país de maioria negra (56,1%), mas de hegemonia branca que tem promovido um ciclo vicioso de racismo, pobreza e violência enquanto eles vivem um ciclo virtuoso de privilégio, riqueza e paz em suas terras, condomínios fechados, haras, mansões e fazendas. Na Revista Raça nós não somos vistos como objetos e sim como protagonistas da nossa história como têm que ser.

Tive consciência da minha negritude em 1988 aos 17 anos, ano do centenário da falsa abolição. A Revista Raça se faz presente na minha vida desde 1996, na época com os meus 25 anos. No seu lançamento ela vendeu muito por trazer uma demanda reprimida no mercado editorial brasileiro. Antes da Raça eu comprava em bancas de jornais no centro da cidade de São Paulo as revistas importadas da comunidade Africana-Americana como Ebony (que existe desde 1945) e Essence (publicada nos EUA desde 1970) revistas que traziam pessoas parecidas comigo e que mostrava a nossa beleza, inteligência, história e força, mas não traziam especificamente a nossa realidade como Africanos-Brasileiros e os nossos desafios específicos aqui da América do Sul.

A Raça veio trazer essa realidade mostrando nossa beleza, jeito de ser, histórico de lutas e a nossa capacidade e vontade de superar nossos desafios. Importante destacar que a Revista Raça se insere na história da nossa comunicação informativa que deu seus primeiros passos no século 19 com a publicação do O Homem de Côr (1833) do editor Francisco de Paula Brito (1809-1861) o primeiro periódico da imprensa negra brasileira. Eu sonhava em poder escrever na Revista Raça e em 2017 recebi esse convite maravilhoso vindo do Maurício Pestana que é um artista e ativista que eu admiro há muito tempo, desde os meus 17 anos, e fazer parte dessa equipe é um grande orgulho para mim, família e amigos e de saber que o trabalho que eu realizo que é a divulgação científica da produção tecnológica e inovadora dos nossos ancestrais é importante para a nossa comunidade Africana-Brasileira.

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