Exposição sobre a cultura negra
A exposição Fronteiras do Baú é um acervo com peças relacionadas a cultura negra
Texto: Oswaldo Faustino | Foto: Divulgação| Adaptação web Sara Loup
Comecei colecionando moedas e selos, conta e depois me interessei pelos gibis. Com o tempo fui percebendo que podia fazer dessas coleções algo temático e decidi dedicar minha atenção a meu povo. Hámais de meio século fotografias, selos, cartões postais, recortes de jornais, revistas, livros, objetos,documentos, enfim, tudo o que encontro que esteja relacionado com negros no Brasil ou em qualquer parte do mundo, vai para dentro do meu baú.
”Foi assim que nasceu a exposição Fronteiras do Baú, organizada por Carmelita Maria da Silva e Vanderlen da Costa, moradores de Araraquara, interior de São Paulo. São cerca de duas mil peças, já apresentadas nas cidades paulistas de Rio Claroe Jaú. “Sempre me interessei pelo passado do povo negro no Rio Grande do Sul. Mas sou colecionador e participava da feira de arte da Praça da República,em São Paulo, comercializando moedas e selos antigos. Assim, entre os materiais comprados ou trocados, recebi selos e moedas de países africanos e outros de produções comemorativas tanto daqui quanto de outras partes do mundo.
Pouco a pouco fui enriquecendo este meu acervo, que agora resolvi abrir para que as pessoas conheçam um pouco a história de nossa gente na diáspora”,diz Vanderlen. Sobre a força da cultura negra no Rio Grande do Sul, onde se imagina só existirem descendentes de alemães e italianos, ele lembra que a maior comenda de seu Estado intitula-se:Negrinho do Pastoreio.
Entre os documentos expostos, há registros de compra e de venda de escravizados, cartas de alforria, atestados de nascimento de filhos de escravas e certidões de óbito e de batizados de crianças negras, no período da escravidão. “Mas não me atenho só a essa época. Faço questão que o Brasil conheça a história dos Lanceiros Negros, na Revolução Farroupilha, da presença e importância do negro no futebol, no mundo das artes, na literatura, na música brasileira e americana, no mundo todo.
Tenho até revistas dos EUA com negros cowboys no Velho Oeste, e um livro infantil escrito em alemão, que conta a história de 12 negrinhos que vão morrendo um a um, cada qual com maior requinte de crueldade. O último se desfaz em lágrimas negras. E isso é contado para crianças. Como elas poderiam não se tornar racistas?”, questiona. Impossível não se emocionar vendo a abertura do baú de Vandelen, que acaba de receber o prêmio deputado Carlos Santos, da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, na categoria Griôt.
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