Familiares de Kathlen relatam abusos policiais
Políciais alegaram confronto com traficantes, mas tio nega: “não apreenderam nada, foi tudo mentira”
Familiares da jovem Kathlen de Oliveira Romeu, morta no dia 8 de junho de 2021, aos 24 anos, no Complexo do Lins, zona norte do Rio de Janeiro, relataram abusos policiais na primeira audiência do caso realizada na tarde desta segunda-feira (16), na Auditoria da Justiça Militar do Rio. Nove testemunhas de acusação foram ouvidas.
Cinco policiais militares são réus no processo, acusados de fraude processual, pois teriam alterado a cena onde a jovem morreu. Kathlen estava grávida e foi baleada e morta em um tiroteio entre policiais militares e criminosos.
A avó de Kathlen, Sayonara de Fátima Queiroz de Oliveira, que estava com a neta no momento do crime, contou que o local estava calmo e havia inclusive crianças brincando na rua quando escutou barulhos de tiro e a vítima caiu no chão, baleada.
Segundo a avó, um dos policiais presentes no local tentou impedi-la de acompanhar a neta, que foi levada para o hospital em um camburão.
A mãe da jovem, Jackeline Oliveira, disse que moradores do bairro confirmaram o relato da avó, dizendo que não havia confronto entre traficantes e policiais no momento da morte.
Sobre o crime
“Kathlen teve sua vida interrompida por homens de farda, que deveriam nos proteger. Isso é o retrato da covardia. Minha filha era muito querida, educada, estudiosa, saudável, feliz, linda”, disse a mãe. “Ela era uma inspiração para outras meninas da comunidade. Hoje eu sou uma mãe sem filha, uma avó sem neto. Fui condenada eternamente à dor”.
O pai de Kathlen, Luciano dos Santos Gonçalves, contou ter recebido um vídeo de uma testemunha que mostra policiais recolhendo cartuchos no chão, logo após a morte. O vídeo faz parte do processo que tramita na Justiça.
Também foram ouvidos policiais militares que atuavam na região no momento do crime. Eles contaram que ouviram os tiros e encontraram a vítima caída.
Kathlen nasceu e cresceu Complexo do Lins, lugar que havia deixado há apenas um mês e meio justamente pelo medo da violência, após a descoberta da gestação.
Uma nova audiência foi marcada para o dia 27 de junho, quando outra testemunha de acusação será ouvida.