“FEST A PRET `A”

Para comemorar o próximo dia dxs namoradxs desconstruindo os padrões de sexualidades, o editorial da Coleção Festa Pret’a, mostra um romance a três. Proposta pelo multiartista Silverino Oju, a coleção une África e Europa, pesquisa e criatividade, contra a mecanização da indústria da moda. Trajes black-tie em tecidos de algodão estampados com grafismos de inspiração africana, feitos manualmente, executados com o rigor e no tempo da alfaiataria artesanal, numa produção conjunta que vai na contramão da dinâmica industrializada do mercado de moda. Assim pode ser resumida a proposta Fest a Pret`a (aka Black Party Collection), do artista plástico baiano Silverino Oju, 41 anos, que se apropria do conceito do “slow-fashion” na produção.

Graduado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA, 2001), Silverino Oju propõe, dentro deste novo modelo produtivo e criativo, uma associação entre pessoas que não têm objetivo meramente comercial, mas principalmente de pesquisa, investigação e aprimoramento da arte e ofício aí envolvidos. Além disso, a idéia é trabalhar com produtos em baixa escala de produção.

Na proposta da Coleção, a construção das peças envolve cerca de quatro pessoas, entre as fases do desenho e da revisão. “O tempo médio para a construção de um terno completo, por exemplo, é de um mês. Com tecido estampado a mão, personalizado, leva mais um mês. O objetivo é realizar um conjunto sob medida por mês. O produto se completa agregado de afetos”,  explica o artista.

Atuando desde 1998 entre universos diferenciados, mas também conexos, como a produção de figurinos, audiovisual e participação em projetos de inclusão social, o artista combate, assim, alguns aspectos corriqueiros e naturalizados do negócio da confecção, como a utilização cada vez mais recorrente de máquinas, assim como dos fenômenos pouco atacados do subemprego e do trabalho degradante ou análogo ao escravo na industria do vestuário.

“A ideia é também propor uma vivência e trocas entre as experiências de um artista PNE (portador de necessidade especial), como é o meu caso, em conjunto com um alfaiate que é um senhor de idade avançada, um alfaiate tradicional, cujo público são magistrados e militares, e cuja produção tem pouco espaço para criação e ousadia”, detalha, acrescentando que as peças estão sendo feitas no Centro Antigo de Salvador.

Técnica europeia e diáspora africana

O uso das estampas africanas procura reacender de maneira qualificada, a partir da estética, a discussão sobre o continente-mãe, e da arte geométrica africana historicamente apropriada pelo branco europeu. “É a união de técnicas e padrões europeus – a precisão dos cortes italianos, por exemplo – com a estampa africana, feita em Salvador-Bahia-Brasil, na atualidade”, resume Silverino, para quem o trabalho não deixa de ser uma releitura contemporânea da própria diáspora.

Para Silverino, Fest a Pret`a ajuda a tratar subliminarmente de temas complexos e contemporâneos, como a crise de identidade e nas relações sociais, em várias partes do mundo, de xenofobia num contexto de refugiados, de LGBTfobia, do racismo estrutural, entre outros, na capital negra do país. “O que eu proponho é um diálogo poético que desconstrua e subverta o establishment, que leve a um deslocamento, pelo olhar e pela possibilidade de vestir, e experimentar o corpo como suporte”, finaliza.

MINIBIO: SILVERINO OJU

Nascido no bairro da Liberdade, em Salvador, o artista cresceu entre Pirajá e Dom Avelar, às margens da Rodovia BR-324. Começou sua carreira fazendo figurino e arte para teatro. Foi destaque no Concurso Nacional Levi’s Ahembi Morumbi (SP), em 2000; ganhou o Prêmio Novos Talentos Barra Fashion (BA), em 2001, participou de diversas exposições coletivas, como Vazio Voraz; trabalhou intensamente com oficinas terapêuticas para saúde mental, e assinou o figurino de filmes premiados como Estranhos, Bicicleta do Vovô, além de produção de objeto para o longa-metragem Trampolim do Forte. Também é diretor do curta Chupa essa uva (If I were a boy).

 

Ficha Técnica

Designer, direção de arte e beleza: Silverino Oju
Fotografia: Ana Paula Pessoa
Modelos: Jayne Souza, Chikinho Rocha, Christian Galvão

Costureiro: Leonardo Silva
Camarim: Maria Angelica
Edição: Alex Souzan

CAROL BARRETO

Mulher Negra, Feminista e como Designer de Moda Autoral elabora produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero. Professora Adjunta do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade – FFCH – UFBA e Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – IHAC – UFBA, pesquisa a relação entre Moda e Ativismo Político

 

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