Ícone da cultura Afro-brasileira

Conheça um dos ícones da cultura Afro-brasileira

 

Texto: Oswaldo Faustino | Foto: Divulgação | Adaptação Web Sara Loup

Nei Lopes | Divulgação

Nei Lopes | Divulgação

Uma rotina a que me impus, já há algum tempo,é ler as atualizações do sítio eletrônico Meu Lote,assinado pelo muito bem-humorado intelectual Dr. Nei Braz Lopes que, além de sua formação em Direito, recebeu no ano passado, com absoluta justiça, o título de Doutor Honoris Causa, conferido pela congregação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Quando temos a impressão de que o sambista Nei Lopes,hoje com 71 anos, dependurou os instrumentos de percussão para se dedicar unicamente à pesquisa sobre a história e culturas africana e afro brasileira ou escrever novos romances, lá vem mais um disco novo, sempre melhor que o anterior. É o caso de “Samba a rigor”, que ele gravou com a orquestra Heartbreakers,sob a direção artística de Guga Stroeter e arranjos de Dino Barioni, prontinho, na boca do forno.

E já se fala em outro intitulado “Samba de fundamento”, da gravadora Fina Flor. E eu ainda estou saboreando a romântica “Outra vez”,sua parceria com a dama do samba, no disco “Baú da Dona Ivone”, lançada no ano passado, o divertido “Chutando o Balde”, de 2009, as rimas ricas de “Estava Falando de Você”, de 2005, e o premiado Partido em “Cubo”, de 2004. Sem nunca abandonar “Tem Gente Bamba na Roda de Samba”, de 1975, a “Arte Negra de Wilson Moreira”e “Nei Lopes”, de 1981, “Negro Mesmo”, de 1983, e “Partido Muito Alto de Wilson Moreira” e “Nei Lopes”,de 1985. Ah! Seria um absurdo não citar “Sincopando o Breque”, de 1999. Ansioso, aguardo a oportunidade devê-lo de smoking à frente da orquestra, como um verdadeiro crooner, no lançamento do novo disco.

MERGULHO NAS LETRAS

Fonte permanente de consulta, algumas de suas obras são obrigatórias para quem se interessa por cultura afro-brasileira e historiografia africana. É o caso de “Kitábu, o livro do saber e do espírito negro-africanos”; “Dicionário da Antiguidade Africana”; “Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana”; “Novo Dicionário Banto do Brasil”; “Dicionário Literário Afro-Brasileiro”; “Dicionário Escolar Afro-Brasileiro”;“Dicionário da hinterlândia carioca”; “Bantos, Malês e Identidade Negra”; “O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical e Logunedé: santo menino que velho respeita”.Nei Lopes nos mostra que o universo do samba vai muito além das letras, músicas, ritmos, batucadas, montagem de desfiles carnavalescos, quesitos e apurações.

Há histórias e fundamentos que só quem é do samba conhece. Generoso, compartilha conosco em: “171 Lapa-Irajá: casos e enredos do samba”; “Zé Kéti: o samba sem senhor”;“Sambeabá: o samba que não se aprende na escola”; “Partido-alto, samba de bamba”; “20 Contos e uns trocados”; e também “Guimbaustrilho e outros mistérios suburbanos”. A insistência de Dona Sonia, sua companheira, para queele enveredasse para o universo das ficções o estimulou a escrever a rapsódia “Oi obome: a epopeia de uma nação”e, em seguida, o romance “Mandingas de mulata velha na cidade nova”.

Pronto! Esta área da literatura também já estava desencantada, não tinha mais mistérios. Então ele escreveu “Esta árvore dourada que supomos e A lua triste que descamba”. Até a literatura infantil mereceu a dedicação de Nei Lopes,com os contos “Histórias do Tio Jimbo”, “O racismo explicado aos meus filhos” e “Kofi e o Menino de Fogo”. Se boa parte de seus versos foram musicados e se tornaram sucesso em sua voz ou na de outros intérpretes famosos, alguns se mantiveram no campo literário e foram publicados na obra de 1996, “Incursões sobre a pele: poemas”.Com tamanha produção, que já lhe garantiu a incursão na lista dos mais importantes escritores brasileiros, não faltam convites para que participe de obras coletivas como “Canções do Rio: a cidade em letra e música” e“Contos da Colina: 11 ídolos do Vasco e sua imensa torcida bem feliz”.

Porém, merece destaque especial a antologia “Questão de pele”, que traz textos de alguns dos mais importantes escritores negros brasileiros, como Nei Lopes. Fazem-lhe companhia Machado de Assis, Lima Barreto e contemporâneos nossos como Cidinha da Silva, Conceição Evaristo e Cuti. Para fechar com chave de ouro, um depoimento do ex-escravizado Mahomma G. Baquaqua, sobre seu sequestro na África, sua escravidão em Pernambuco e sua libertação nos EUA.

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