Inclusão pela educação
Professores da rede pública aprimoraram o trabalho junto às unidades de internação para adolescentes autores de atos infracionais, “ a educação transforma”.
Há mais de 12 anos, a gerente de Acompanhamento da Socioeducação da Secretaria de Educação (SEE), Daniela Gomes, encontrou seu propósito de vida. “A maior parte da minha trajetória profissional tem sido na socioeducação. Tenho atuado desde o antigo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) por acreditar que a educação transforma vidas”, afirma a professora.
A socioeducação é a oferta de escolarização aos adolescentes autores de atos infracionais, de 12 a 18 anos de idade, que estão cumprindo medida socioeducativa. Atualmente, 291 estão matriculados no ensino fundamental e 220 no médio. As ações pedagógicas são desenvolvidas por professores da rede pública de ensino nas oito unidades de internação do DF.
O sistema socioeducativo é uma importante conquista na atenção e intervenção com esses estudantes, pois proporciona meios para os adolescentes construírem novos projetos de vida. Diferencia-se da educação para o sistema prisional, que possui outra organização pedagógica e é oferecida aos adultos que praticaram crimes.
De acordo com Daniela, além das unidades socioeducativas terem casos de sucesso – como adolescentes aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, a existência de uma unidade de internação feminina no Gama é um dos avanços mais recentes. “Essas meninas ficavam em unidades mistas, e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preconiza que haja unidades exclusivamente femininas para que sejam atendidas de maneira diferenciada”, explica.
Entre versos e rimas
Além de Daniela, outros professores descobriram sua paixão pela socioeducação. O professor de História Francisco Celso desenvolve, na Unidade de Internação de Santa Maria (Uism), um trabalho que o tornou conhecido mundialmente. Ele foi finalista do prêmio Global Teacher Prize, o Nobel da Educação, com o projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo).
“O nome do projeto, que é realizado desde 2015, é uma alusão ao gênero musical e utiliza a linguagem poética do rap para o aprendizado”, conta ele. “Tive a sensibilidade de perceber a potência desses estudantes e contribuí para que fosse amplificada.”
Para fazer parte dos 50 selecionados que disputavam o Nobel, Francisco Celso concorreu com aproximadamente 12 mil inscritos de mais de 140 países – e não parou por aí. O projeto também venceu o prêmio local do Itaú Unicef 2017 e, em 2018, ganhou o Itaú Unicef etapa local e nacional. Em 2019, venceu o Selo de Práticas Inovadoras na Educação e, em 2020, o Prêmio Cultura Brasília 60.
Adaptações
Com a pandemia, a iniciativa precisou passar por uma adaptação para o formato on-line. E o projeto, anuncia Francisco Celso, será implementado em todos os núcleos de ensino das unidades de internação socioeducativas do DF.
No episódio desta semana do Podcast EducaDF, a conversa foi sobre a socioeducação. Acompanhe.