Inferno no Paraíso(polis)!

A morte desses nove jovens, ocorrida em Paraisópolis/SP, num baile funk (três deles com menos de 16 anos e um com apenas 14) provocada por esta ação insana e cruel da Polícia Militar do Estado de  São Paulo, é o retrato fiel da estupidez, da maldade e do sadismo que grassa nos setores da segurança pública do Estado brasileiro, com  apoio de parte significativa da sociedade e de autoridades que acham que preto e pobre não seres humanos e sim aberrações da natureza.

Para quem não sabe, esses bailes realizados ao ar livre, são a única opção de lazer que estas populações espremidas pela miséria entre os becos e vielas das favelas nas grandes cidades possuem para se divertir nos finais de semana. E todo mundo sabe disso. Executivo, Legislativo e Judiciário de todos os níveis não só sabem como se locupletam das mais variadas formas desses agrupamentos, em particular as policias dos estados.

Estimulados por uma onda de insensatez que tem como matriz setores neopentecostais na grande mídia, a bancada da bala e psicopatas de todas as ordens, a pobreza virou crime e a juventude virou estorvo. Se for preto, pobre e da periferia, então, a solução é “tiros, porrada e bombas”. E foi isso que ocorreu em Paraisópolis, com a conivência de boa parte das nossas autoridades.

Chega a ser patética as explicações dadas pelo comando da PM paulista para explicar essa selvageria. Os vídeos são claros, precisos e mostram para quem quiser ver o sadismo da tropa encurralando jovens e os espancando sem dó nem piedade e ainda por cima impedindo que eles fossem socorridos. Os relatos são contundentes. Os meninos e meninas que se divertiam, foram emboscados de maneira perversa e sádica e nove deles pagaram com a vida por serem pretos e pobres.

Enquanto isso, como verdadeiros autistas os porta vozes da polícia militar tentam negar as evidências da barbaridade cometida e o que é pior, buscam fugir das suas responsabilidades a qualquer custo. Eles sabem que o ocorrido é fruto da orientação discriminatória dada a uma tropa despreparada para agir contra a população pobre da periferia do nosso país. Eles sabem que os policiais agiram de forma criminosa. Eles sabem que jovens inocentes que apenas se divertiam foram trucidados. Mas, apostam na impunidade. Impunidade alimentada por este sentimento de ódio que está sendo estimulado em nosso país, por aqueles que deveriam dar tranquilidade e segurança à população.

Duvido que esta mesma tropa agisse com essa brutalidade se houvesse algum entrevero semelhante num Festival do tipo Lolapalloza ou na Fórmula 1 em Interlagos, onde o consumo de drogas e a bagunça é igual ou maior do que nos bailes funks, conforme argumentou um oficial da PM para justificar a abordagem violenta.

Lamentavelmente, no Brasil do século XXI, os pretos e pobres continuam destituídos de quase tudo. Seus direitos são vilipendiados cotidianamente, e quando protestam a classe média racista afirma que é mi mi mi. E quando são assassinados, seja por milícias, grupos de extermínio ou policiais, são bandidos e como bandido bom é bandido morto, matemos todos. Para essa juventude não existe justiça, educação, oportunidade de emprego, moradia digna e nem lazer ou atividades culturais. É a barbárie ao alcance de todos.

Enfim, mais do que nunca as chagas do racismo e da exclusão estão expostas e o Brasil continua enfermo dos 300 anos de escravidão. Precisamos encontrar a cura para esta enfermidade, sob pena de adoecermos todos. A luta continua.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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