Jornalistas da Folha assinam manifesto contra artigo que defende racismo reverso
Documento assinado por 186 profissionais critica jornal pela postura e pede providências à direção do veículo, controlado pela família Frias
Jornalistas da Folha de S. Paulo publicaram hoje uma carta aberta em protesto aos conteúdos racistas que tem sido publicados no veículo. 186 profissionais aderiram ao manifesto, sendo que 164 deles assinaram nominalmente a carta.
No conteúdo, os profissionais destacam a importância de se manifestar sobre o assunto nesse momento “Sabemos ser incomum que jornalistas se manifestem sobre decisões editoriais da chefia, mas, se o fazemos neste momento, é por entender que o tema tenha repercussões importantes para funcionários e leitores do jornal e no intuito de contribuir para uma Folha mais plural”, dizia um trecho.
Entregue à Secretaria de Redação e Conselho Editorial da Folha, a carta também fala sobre o descontentamento dos jornalistas com a publicação de outros artigos da Folha de S. Paulo que também relativizaram o racismo. “Em mais de uma ocasião recente, a Folha publicou artigos de opinião ou colunas que, amparados em falácias e distorções, negam ou relativizam o caráter estrutural do racismo na sociedade brasileira. Esses textos incendeiam de imediato as redes sociais, entrando para a lista de mais lidos no site. A seguir, réplicas e tréplicas surgem,
multiplicando a audiência. A controvérsia então se estanca e morre, até que um novo episódio semelhante surja”.
O documento ainda reitera “Acreditamos que esse padrão seja nocivo. O racismo é um fato concreto da realidade brasileira, e a Folha contribui para a sua manutenção ao dar espaço e credibilidade a discursos que minimizam sua importância. Dessa forma, vai na contramão de esforços importantes para enfrentar o racismo institucional dentro do próprio jornal, como o programa de treinamento exclusivo para negros”.
Ao final da carta, os jornalistas chamam os dirigentes da Folha à reflexão. “convidamos a uma reflexão e uma reavaliação sobre a forma como o racismo tem sido abordado na Folha. Acreditamos que buscar audiência às expensas da população negra seja incompatível com estar a serviço da democracia”.