Artistas negros lançam Funk e MPB de forma independente

Seja por falta de investimento ou por convicção, artistas negros seguem fazendo suas músicas de forma independente ou por meio de pequenas produtoras.  

O mercado de música independente segue aquecido e segundo o relatório divulgado no ano passado pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), “[…] antigamente, gravar era restrito e caro. Ademais, a popularização dos estúdios caseiros e dos meios colaborativos de produção remota facilitaram e baratearam os custos de produção”. Entre os estudos de caso apresentados no relatório está o Laboratório Fantasma, produtora, editora e consultoria fundada em 2009 por Fioti e Emicida.  

Neste caminho, nos últimos dias do mês de agosto, MC Lalão do TDS, Fabriccío, Muato e Caio Nunez, lançaram nas principais plataformas de streaming de música e vídeo novos trabalhos, todos independentes ou por pequenas produtoras.

Em alguns casos, o estilo das músicas é tão fluido que não cabe em uma categoria específica. Por certo, a música brasileira vem mudando bastante e a nova música negra, em especial, mostra o quanto o trânsito entre os gêneros é possível. 

Princesa do Gueto

Ontem, 29, a MC Lalão do TDS lançou o videoclipe “Princesa do Gueto”, gravado nas ruas de Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo. Assim como muitos artistas do funk e também do rap, a MC fez questão de mostrar a realidade da cidade onde vive.

Mas a data do lançamento foi estratégica, porque 29 de agosto é o Dia da Visibilidade Lésbica e de alguma maneira, a MC desejou com isso chamar atenção da sociedade sobre o assunto. “O 29 de agosto é importante para mim porque eu não só comemoro a Visibilidade Lésbica, mas também comemoro a minha vida. Como uma mina lésbica, de quebrada, não-feminina, negra. Para mim, estar viva aqui é muito importante”, disse MC Lalão.

SELVA 

Também no mês de agosto, o cantor, compositor e multi-instrumentista capixaba Fabríccio lançou o álbum de MPB, “SELVA”. A obra traz releituras do extinto disco Jungle (2017), além das faixas bônus e participação de artistas como Drik Barbosa e Tássia Reis. O álbum é uma resposta do artista ao fechamento de um ciclo com a antiga gravadora e com os tropeços do início da carreira. 

“Eu dei sorte, a música é meu jeito de estar no mundo, é minha forma de espelhar a forma que a vida se mostra pra mim, uma forma de retribuir não só a ‘beleza’ da música ou da letra, mas retribuir por ter aprendido a ter isso como tecnologia para me comunicar e também me descobrir”, disse Fabríccio.

Feito Pedra 

No mesmo caminho, Muato e Caio Nunez lançaram, também em agosto,  “Feito Pedra”, novo single do projeto “AfroLove Songs ou A Canção Urbana de Amor Política”.  A música transita entre o romântico e o político-social ao recriar uma história de relacionamento afro centrado. A influência do hip hop é perceptível no flow (maneira como os cantores encaixam as palavras na melodia) dos dois artistas. 

Além da música, Muato também espalha poesia em forma de lambe-lambe pela cidade do Rio de Janeiro.

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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