Leia a entrevista com o Pregador Luo

Veja trechos da entrevista da Revista Raça com o rapper Pregador Luo

 

TEXTO: Cláudia Canto | FOTOS: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

O rapper Pregador Luo | FOTO: Divulgação

O rapper Pregador Luo | FOTO: Divulgação

Nesta conversa descobrimos o que faz de Luciano dos Santos, ou melhor, Pregador Luo, um dos rappers mais cobiçados do momento. Destemido, ele é, ao mesmo tempo, dotado de uma sensibilidade capaz de causar desconforto nos que esperam dele uma atitude mais passiva por causa da sua religiosidade. Ledo engano! Luo veio mesmo para incomodar, desde que lançou, há 16 anos, o histórico grupo Apocalipse 16, nome que faz referência ao texto bíblico, que fala de arrependimento dos pecados. Nesta entrevista ele aborda temas como homofobia, religião, preconceito, e muito mais.

Confira trechos da entrevista com o rapper Pregador Lou:

Fale sobre a sua carreira, desde o Apocalipse 16.

Eu me envolvi com o hip hop em 1988 e trabalhei com grupos como Ndee Naldinho, Comando DMC e Fatos Reais, que são pioneiros e que tiveram muita expressão no rap brasileiro. Em 1994, me converti ao cristianismo e, em 1996, montei o Apocalipse 16 com mais dois amigos. Enfrentei os mesmos desafios que qualquer pessoa que começa uma banda enfrenta, mas no meu caso foi muito mais difícil. A galera da igreja não aceitava e a da rua também não. Praticamente comecei do zero com o Apc16, até torná-lo conhecido e respeitado. Enfrentei muito preconceito, tocávamos em tudo quanto era canto: escolas, favelas, clubes, casas noturnas, FEBEM, presídios e também em igrejas que conseguiam entender que nosso objetivo também era pregar o evangelho. Escrevi, produzi, dirigi toda a parte artística e investi do primeiro ao último centavo em cada disco que lancei. Sinto-me um vitorioso por ter conseguido fazer do Apocalipse 16 um dos mais importantes grupos do hip hop nacional.

Você se considera um cantor de rap gospel?

Eu não gosto dessa separação no rap. Para mim é tudo rap. Eu sou cristão e passo essa ideologia em minhas músicas, porém abordo e canto sobre diversos outros assuntos em minhas composições. Ser evangélico nos dias de hoje é complicado. Existem inúmeras denominações e, em muitos casos, cada uma delas pensando e agindo segundo sua própria fé. Vou explicar melhor para não ficar nada subentendido: as pessoas que buscam Deus através da religião, no geral mergulham em suas buscas de coração puro e aberto. Muitos líderes de diversas denominações têm errado muito e abusado da fé dessas pessoas. Muitos vêm extorquindo, pregando falsas doutrinas, ostentando e criando uma religião diferente da que Jesus pregou. Portanto, não quero ser comparado a tais pessoas, eu apenas prego o evangelho de uma forma simples e não excluo pessoas por não terem a mesma fé ou a mesma opinião que eu tenho. Eu rejeito todas essas barbaridades que vêm sendo feitas em nome da religião. Entendo que no mundo capitalista se rotula tudo para ficar mais vendável e fácil de encontrar numa prateleira, mas o que faço vai além do consumismo. Quero ser conhecido pelo que realmente sou e não pelo o que digo ser.

Pregador Lou em show | FOTO: Divulgação

Pregador Lou em show | FOTO: Divulgação

Você já sofreu algum preconceito por cantar rap?

Sim. Por cantar rap, por ser negro, por vir da periferia e por manifestar minhas próprias opiniões. Mas é exatamente isso que espero de pessoas que não entendem bem ou não querem entender o evangelho, ou que tenham uma mente facilmente manipulável. Minha postura vai continuar sendo a mesma de sempre co relação ao preconceito, não vou me encaixar na situação depreciativa que os preconceituosos tentam me colocar, não permitirei isso em minha vida. Eu estou acima de conceitos alheios, sou mais do que os outros imaginam que eu seja. Se um dia eu ficar de fato abaixo do conceito de alguém, foi porque essa pessoa me superestimou ou porque eu sou humano e realmente errei.

Qual a sua opinião sobre a polêmica em torno do deputado Marco Feliciano e sobre homossexualidade?

Minhas opiniões são totalmente contrárias à desse sujeito. Não o conheço, e depois da postura que ele tem manifestado publicamente, ficou bem claro que ele milita por um tipo de evangelho diferente do que eu entendo por certo e autêntico. Ele não fala pelos evangélicos do Brasil. Ele fala por si e talvez por uma minoria que o segue. Não teve meu voto e nunca terá, e minha opinião sobre ele, por ora, termina aqui nessa frase. Infelizmente, pessoas com posturas racistas, preconceituosas e manipuladoras têm alcançado cada vez mais lugar nos púlpitos de pregação das igrejas, e temos chegado ao cúmulo de permitir que gente sem preparo algum e com claras atitudes preconceituosas cheguem a cargos públicos. Uma lástima! Sobre a homossexualidade, acredito que ela seja apenas mais uma das manifestações de comportamento da natureza humana. Jamais condenarei alguém por suas características, mesmo quando elas forem contrárias às minhas. Meu dever é amar as pessoas e construir uma sociedade melhor com qualquer um que também tenha esse desejo. A Bíblia não aprova a prática homossexual, mas ela não diz que temos que atacar ou humilhar pessoas. A homossexualidade me parece ser algo muito complexo, não a vejo como algo que se resuma apenas em escolha de comportamento, mas sim como algo que está emaranhado na alma de algumas pessoas. O livre-arbítrio concedido por Deus é algo extraordinário, pois assegura a todo ser humano o direito de fazer suas próprias escolhas, sejam boas ou más, certas ou erradas. O mandamento que me foi dado é: amar ao próximo como a mim mesmo. A Bíblia também não aprova preconceito, mentira, roubo, extorsão, opressão, impunidade, homicídios, traição, manipulação, injustiça e tantas outras práticas que nós, seres humanos, cometemos há séculos e que têm nos causado tanto sofrimento. Somos todos pecadores e carecemos da graça de Deus para nos justifi car. Deus tratará cada um de nós de forma justa. Se você que está lendo essa entrevista é homossexual, saiba que Deus ama você da mesma forma como amou seu filho Jesus Cristo e que deseja sua felicidade.

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