LIVROS
Por Márcio Barbosa
PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA
Djamila Ribeiro
Manuais geralmente trazem instruções de uso ou orientações para resolução de problemas. Alguns livros, como os de autoajuda, acabam se tornando manuais aos quais o leitor pode recorrer em seus momentos de dificuldade. O Pequeno Manual Antirracista, da filósofa Djamila Ribeiro, vai muito além de tais parâmetros, embora se permita dar algumas instruções. O título traz à lembrança um outro livro, o Manual de Sobrevivência do Negro no Brasil, lançado em 1994 pelo diretor da revista Raça, Maurício Pestana, e pelo saudoso poeta Arnaldo Xavier, que é uma obra recheada de ironia e humor crítico. Tanto num livro quanto no outro a intenção é bem “escura”: desvendar o racismo brasileiro, desconstruí-lo utilizando-se lâminas afiadas e indicar estratégias para combatê-lo, minimizando seus males. No texto da celebrada escritora Djamila Ribeiro, a reflexão baseia-se na literatura existente sobre o tema e nas observações e recordações de vida da autora. Envolvente e interessante, o texto flui com rapidez, sem deixar de lado a capacidade crítica. O título de cada capítulo é uma orientação, tal como “enxergue a negritude”, “transforme seu ambiente de trabalho”, “questione a cultura que você consome”, dentre outras indicações especialmente úteis para quem ainda não sabe lidar com o racismo. Dizem que no geral a vida vem sem manual de instruções, mas é ótimo que para algumas coisas a gente possa ter um bom manual à disposição.
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CASA VERDE — UMA PEQUENA ÁFRICA PAULISTANA
Tadeu Kaçula
As viagens que as páginas de um livro proporcionam são diferentes daquelas trazidas pelas telas de led ou lcd, mas são igualmente prazerosas. E a geração que cresce em meio à alta tecnologia embutida em computadores e celulares às vezes descobre isso. É maravilhoso, por exemplo, percorrer as ruas da zona norte de São Paulo por meio das páginas deste livro do sambista e sociólogo Tadeu Kaçula. A zona norte é onde proliferam as escolas de samba e os campos de várzea, onde há a festa de São Benedito e tantas histórias. É interessante, por exemplo, descobrir a origem do nome do bairro da Casa Verde, ver fotos antigas do lugar, fazer essa volta no tempo que o excelente trabalho de pesquisa de Kaçula permite. Mas Kaçula não esquece que quem dá significado aos lugares são as pessoas, por isso ele nos mostra os personagens que construíram e constroem esses bairros de maioria negra. Ele fala de trajetórias como a do Carlão do Peruche, a de Nereu — do Trio Mocotó —, a do pintor João Cândido. O autor nos conduz pelas memórias afetivas de seus diversos personagens, por suas lutas e conquistas, especialmente as ligadas à música e à construção de agremiações como as escolas de samba Morro da Casa Verde, Peruche, Mocidade Alegre, dentre outras. O encanto que daí nasce só poderia ser eternizado nas páginas de um livro.
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OS NOVE PENTES D’ÁFRICA
Cidinha da Silva
Ilustrações de Iléa Ferraz
Quantos adolescentes e jovens afrodescendentes protagonizam de forma positiva os livros de literatura nacional? Até recentemente eram bem poucxs, como se essa juventude estivesse condenada somente às páginas e links policiais. Ao contrário, ela participa ativamente de todas as atividades de seu tempo. Jovens e adolescentes negrxs também são íntimos do mundo digital e da tecnologia. Também se permitem novos olhares para questões como emprego e sexualidade, por exemplo. Com o adendo de que têm uma herança ancestral a (re)descobrir. É sobre como interpretar e cuidar dessa herança que este livro de Cidinha da Silva fala. O artesão vô Francisco faz a passagem e deixa para seus netos pentes com motivos africanos. As crianças são observadoras, inteligentes, e devem aprender o significado de cada pente enquanto tentam lidar com os sentimentos que morte e nascimento despertam. Assim, descobrem que viver pode se tornar mais simples quando valorizam a sabedoria dos mais velhos. A narrativa se desenvolve carregada de poesia e exige olhos atentos aos detalhes. As ilustrações de Iléa Ferraz dão vida a cada um dos pentes.
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MAKEBA VAI À ESCOLA
Ana Fátima
Ilustrações de Quezia Silveira
Salvador é nossa Meca, é para onde deveríamos ir pelo menos uma vez na vida, se não for possível ir uma vez ao ano. É de lá que vem esse livro bilíngue escrito por Ana Fátima e cuja leitura é tão prazerosa. A situação que o livro retrata é um dilema comum para muitos pais e filhos. Afinal, quantas crianças já não se sentiram inseguras quando chega a época de ir para a escola, do mesmo jeito que a pequena Makeba se sente? Em casa ela tem a atenção e o carinho de seu pai e de sua avó. O pai, assim como ocorre na animação “Hair Love”, indicada ao Oscar de 2020, cuida do cabelo de Makeba, e a avó conta histórias e canta cirandas para ela. É por isso que, naquele que seria seu primeiro dia de aula, Makeba diz ao pai: “Não quero ir à escola. Eu não gosto da escola”. Makeba rejeita o início da vida escolar, talvez tema a forma como vai ser recebida. Os colegas vão gostar dela? Contando com o acolhimento e o amor do pai e da avó, ir à escola é um desafio que Makeba precisa vencer.
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