Mãe denuncia racismo em livro didático de escola privada em Recife; editora rebate

A mãe de uma criança de 3 anos, aluna de uma escola particular no Recife, em Pernambuco, denunciou um livro didático por racismo. Na publicação, da editora Formando Cidadãos, um dos exercícios propõe que os estudantes circulem o lar em que as pessoas estão felizes. O enunciado mostra uma família negra triste e outra família, de cor branca feliz, com todos sentados à mesa.

Em outra página, a atividade pede que os alunos liguem três personagens a suas respectivas profissões. O aluno deve, então, ligar o único personagem negro, que aparece de vassoura na mão, ao desenho de um corredor em que podem ser vistos também uma pá e um balde. Os outros dois personagens, mulheres brancas, devem ser ligados a uma mesa com computador e a uma sala de aula.

A editora rebate as acusações, dizendo que a mulher se concentrou em duas atividades do livro, que, segundo a empresa, tem outros exercícios nos quais personagens negros são “protagonistas”.

A denúncia foi feita por Aline Lopes em seu perfil no Faceboook. Ela conta que, por ser uma mulher branca, nunca se sentiu excluída ou socialmente privada do que quer que fosse em função da sua pele clara. Mas, por ter dois filhos negros (uma menina de 5 anos e um menino de 3 anos), Aline diz que começou a sentir o peso do racismo dentro da sua casa, depois que as crianças nasceram.

– Desde então, eu tenho de lidar com coisas desagradáveis, com as quais nunca passei na minha infância. Já teve professora que prendia o black da minha filha na escola. Já teve coleguinha discriminando. Agora, teve livro perpetuando o negro sempre na pior representação possível. O negro triste. Feio. Servente. Nunca é o negro médico, professor, advogado – comentou a mãe, em seu Facebook.

Mãe diz que ato não é falho

Aline não quis divulgar o nome da escola, mas conta que os filhos estudam numa instituição privada que já está tomando medidas para reverter esse problema no plano de aula dos alunos.

– Todo livro tem uma equipe que lê e relê o conteúdo didático que será publicado. Por que isso não foi revisado antes de chegar nas mãos do estudante? É preciso ter noção. Essa publicação é para um público vasto de alunos. Isso não poderia ter passado. Nas escolas particulares também existem alunos negros – defende a mãe.

Para Aline, não há problema na profissão de servente, mas ela questiona o motivo dos negros serem sempre representados com as mesmas profissões.

– Não acho certo diminuir o papel do negro. Isso é complicado, principalmente no material didático. É um absurdo. Esse conteúdo é muito usado em várias escolas particulares e nada, até hoje, foi feito. São anos de racismo e não de um ato falho – acusa.

Para editora, não há preconceito

Gerente administrativo da editora Formando Cidadãos, Paulo André Cavalcante Leite defende que não há preconceito no livro. Ele informa que o material está no mercado há quatro anos e nunca houve nenhum problema.

– O livro não é composto por uma página, a coleção conta com mais de 12 mil páginas, em 148 livros didáticos e literários para crianças de 2 anos até 14 anos. Ela (a mãe) está se pautando em apenas duas atividades. Nesta mesma coleção, existem outras imagens onde o negro é o protagonista da cena, como professora negra e bailarina negra. Se houvesse algum tipo de racismo, com uma obra sendo trabalhada há quatro anos, já teria alguma reclamação – destaca Leite.

Na página da editora no Facebook, a editora repudia qualquer tipo de intolerância e preconceito e ressalta que todo o material é bem representativo quanto às etnias.

Segundo Paulo, para evitar novos problemas, a editora está reformulando esses dois exercícios da coleção para o ano letivo de 2018.

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