Maurício Pestana receberá título de Doctor Honoris Causa

Maurício Pestana, jornalista, artista gráfico, empresário e comunicador social, receberá na próxima terça-feira, dia 21 de junho, o título de Doctor Honoris Causa pelo conjunto de sua obra pela Universidade de Vassouras.

Diversas autoridades do país estarão presentes no dia. Da área acadêmica a solenidade contará com as presenças da Doutora Petronilha Gonçalves da Silva, Doutora em Ciências Humanas. Quando membro do Conselho Nacional de Educação, foi responsável pelo parecer que instituiu a Lei nº 10.639, que obriga o ensino da História da África e de seus descendentes nos currículos escolares públicos e privados do Brasil.

Também participarão o Professor e Doutor em Antropologia pela USP-Universidade de São Paulo Kabengele Munanga.

A cerimônia será presidida pelo Magnífico Reitor da Universidade de Vassouras, doutor Marco Antônio Soares de Souza.

A equipe de redação da RAÇA se reuniu hoje com nosso CEO, para uma rápida entrevista sobre este momento, com presenças de Luan Lima, Jaice Balduino e nossa editora chefe, Hamalli Alcântara. Conseguimos esse depoimento que você confere agora:

Pestana, qual a importância de ganhar este título de uma universidade com mais de 50 anos, que só concedeu esse título para duas pessoas até hoje?

Realmente, isso me enche de orgulho. De todos os títulos que recebi, inclusive a Medalha Rio Branco – no qual você é condecorado pelo presidente da República – essa para mim é sem dúvidas a mais importante, pois é a academia que vem até você reconhecer sua obra, sua luta e seu legado para o avanço da humanidade. Isso não é pouco e esse reconhecimento a pessoas pretas neste país é raríssimo. 

Pestana, o seu título é devido ao conjunto da obra. Qual dos seus trabalhos você acha que reflete mais o momento de mudança que estamos tendo?

Cada livro, cada artigo, cada pôster ou cartum que produzi até hoje é como se fosse um filho. É difícil saber qual o mais importante, minha obra é extensa, tenho trabalhos publicados, inclusive no exterior. Ao todo são mais de 70 livros sobre os mais diversos assuntos, com temáticas que vão de cartuns denunciando o racismo, passando pelas revoltas negras em nosso país ou trabalhos nas áreas de saúde como prevenção ao HIV e conscientização sobre Anemia Falciforme e, luta por mais negros e negras no espaço corporativo. 

Mas um trabalho que me orgulho de ter realizado foi a série Lendas dos Deuses da África, na qual lancei de uma só vez 12 livros infantis, acho que um feito único no Brasil e pouco divulgado.

No seu livro, “A Empresa antirracista” você entrevista CEOs sobre as ações afirmativas que as empresas vêm fazendo ao longo dos anos. Você preside o Fórum anual Brasil diverso, qual a importância dele?

O fórum que completa 8 anos agora em agora em 2022 é um importante espaço de diálogo entre o setor privado e a sociedade civil sobre a chegada de negros e negras no mundo corporativo. Ele inspirou várias iniciativas que têm ajudado a mudar a forma com que as empresas lidam com a questão racial e a exclusão em nosso país. Fico feliz de ter partido de mim essa iniciativa que começou quando ainda era Secretário da Igualdade Racial na cidade de São Paulo.

A quem você dedicaria este título? 

Com certeza, houve pessoas que o influenciaram e inspiraram nessa sua trajetória. Sim, muitas. Pessoas que me inspiraram e inspiram muito. Primeira pessoa que me inspira até os dias de hoje como pessoa foi minha mãe, uma mulher preta corajosa que criou 7 filhos, além dos sempre agregados das famílias pretas; como ativista, Nelson Mandela e Martin Luther King; como cartunista, Henfil e Jayme Leão foram os dois que me lançaram no ofício e minhas duas filhas que sempre atentas com olhar de mulheres pretas me auxiliam muito na compreensão das demandas dessas novas gerações.

Diante de diversos trabalhos que você exerce, o cartum sempre foi um dos que mais me chamam a atenção pela forma rápida, ágil e delicada com que você aborda o racismo. O que podemos esperar de projetos futuros?

Tenho um novo livro que deve sair ainda este ano. É um livro que segue a sequência da empresa antirracista, que tem vendido bastante; quanto a cartuns ainda nada em vista. 

Seu trabalho pela população negra se complementa na prática política, institucional e empresarial. Como é para você ser forte referência nessa luta?

O racismo em nosso país está tão enraizado e institucionalizado que não dá para escolher uma área para o combater. Eu com meu trabalho tenho engajamento em diversas frentes como: contra a intolerância religiosa, por participação mais negra na política e fico feliz de ter aberto também esse front de mais negros nos espaços de poder no mundo corporativo.

Empresas estão aprendendo que diversidades geram valor. Como é o seu trabalho nas áreas de consultoria para organismos públicos e privados?

Sempre de democratizar as boas práticas no combate à exclusão, é isso que venho fazendo há mais de 30 anos.

Pestana, você recebe este título com mais de 30 anos de ativismo. Qual é a sensação de ter chegado a esse marco com um título tão grandioso?

Fiquei muito feliz de ter começado a trabalhar precocemente; aos 12 anos já tinha carteira de trabalho registrada. Como costumo dizer: começar a fazer as coisas cedo também dá o prazer de colher cedo os frutos do trabalho. São muitas décadas de dedicação à causa e à luta contra o racismo, uma obra que, já me falaram, não existe um paralelo no mundo, onde um artista da área gráfico-jornalística tenha produzido tanto em uma única direção: a luta contra o racismo. Então, este título e este momento me deixam muito feliz e agora é comemorar e dividir com todos aqueles que estão nesta luta e ousaram sonhar com um Brasil e mundo melhor livre do racismo.

Comentários

Comentários

About Author /

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?