MEDICINA é coisa de preto

Por: Carlos Machado / GyasiKweisi

A medicina dos antigos keméticos (Km.t é o nome original desta civilização e significa Terra Preta, provavelmente referindo-se aos solos negros férteis das planícies de inundação do Nilo, distinto da “terra vermelha” ou dechret, que significa deserto) é uma das mais antigas documentadas. Desde o início da civilização no final do quarto milênio a.C. até a invasão persa de 525 a.C., a prática médica kemética permaneceu praticamente inalterada, mas foi altamente avançada para a época, incluindo cirurgia não invasiva, colocação de ossos, odontologia e um extenso conjunto de farmacopeia. O pensamento médico desenvolvido no vale do rio Nilo, no nordeste africano, influenciou depois outras escolas, incluindo a grega na Europa.

Até o século 19, as principais fontes de informação sobre a medicina kemética antiga eram escritos da antiguidade. O historiador grego Heródoto visitou o Egito por volta de 440 a.C. e escreveu extensivamente suas observações sobre sua prática medicinal. Plínio, o Velho, também escreveu sobre eles. Hipócrates (o “pai da medicina”), Herófilo, Erasítratus e Galeno estudaram no templo de Amenhotep e reconheceram a contribuição da antiga medicina kemética para a medicina helênica.

Em 1822 a tradução da Pedra de Roseta finalmente permitiu a tradução de antigas inscrições e papiros hieroglíficos keméticos, incluindo muitos relacionados a questões médicas. O interesse resultante na egiptologia
no século 19, levou à descoberta de vários conjuntos de extensos documentos médicos antigos. O Papiro Edwin Smith é um livro sobre cirurgia e detalha as observações anatômicas e o exame, diagnóstico, tratamento e prognóstico de inúmeras doenças. Provavelmente foi escrito por volta de 1600 a.C., é considerado como cópia de vários textos anteriores. Informações médicas nele datam de 3000 a.C. É visto como um manual de aprendizagem. Os tratamentos consistiram em pomadas feitas a partir de substâncias ou minerais, animais, vegetais ou de frutas. Há evidências de cirurgias orais sendo realizadas já na 4ª Dinastia (2900- 2750 a.C.).

O papiro de Ebers c. 1550 a.C. inclui 877 prescrições para uma variedade de doenças e enfermidades, algumas
delas envolvendo remédios mágicos. Ele também contém documentação revelando a consciência dos tumores,
juntamente com instruções sobre remoção de tumores. O papiro ginecológico de Kahun trata das queixas
das mulheres, incluindo problemas com a concepção. Contém 34 casos detalhando diagnósticos e tratamentos.
Sobrevivem, alguns deles fragmentariamente. É datado de 1800 a.C. Outros documentos como o papiro de Hearst
(1450 a.C.) e o papiro de Berlim (1200 a.C.) também fornecem informações valiosas sobre a medicina produzida
nesta civilização.

Outras informações provêm das imagens que muitas vezes adornam as paredes dos túmulos keméticos e a
tradução das inscrições que as acompanham. Avanços na moderna tecnologia médica também contribuíram
para a compreensão da medicina dos nossos ancestrais africanos. Paleopatologistas foram capazes de usar
raios X e, posteriormente, CAT Scan para visualizar os ossos e órgãos de múmias. Microscópios eletrônicos,
espectrometria de massa e várias técnicas forenses permitiram aos cientistas vislumbres únicos do estado da saúde em Kemet há 4000 anos.


O Egito é Preto, Kemet é Preto! Descolonize-se!Carlos Machado / GyasiKweisi, Historiador e Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo, Professor da SME-PMSP, Autor do livro Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente. É ex-bolsista da Ford Foundation (USA ), Articulista e Palestrante.

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