Meu bebê tem 4C

por LEIA ABADIA

Os desafios das mães de filhos com cabelo crespo.

Nascimento de uma criança. a esperada chegada de um novo membro na família, motivo de muita emoção e alegrias. durante a gestação, no momento em que as mães imaginam

o rostinho de seus bebês, elas traçam um perfil levando em consideração as características dela mesma, com as características do pai da criança, e sonham como vai ser o seu bebê.

Aí eu me pergunto: em um país que se desenvolveu com uma cultura racista, como se sentem as mães, que sabem que seus bebês vão chegar ao mundo com cabelos crespos? 

Mães negras e afrodescendentes passam a gestação ouvindo frases do tipo “Tomará que salve o cabelo”; “Se Deus quiser, vai puxar o cabelo do pai” (no caso de relacionamento inter-racial); “Se vier igual ao seu cabelo, tem que viver no salão”.

Esses comentários “inocentes” vêm recheados de racismo. Precisamos entender que o cabelo, assim como o formato do nariz e a cor dos olhos fazem parte da identidade da criança. Apontar algo errado em uma dessas características por modismo, opinião pessoal ou estética, é racismo! Gera constrangimento na criança e pode evoluir para quadros extremos como depressão. Nunca é demais lembrar: Racismo é crime.

O Salão Preta Brasileira, especialista em cabelos crespos, propõe uma série de práticas familiares para desconstrução do racismo estrutural. O empoderamento deve acontecer em casa. Devem partir dos pais e responsáveis as ações afirmativas para trabalhar ego e autoestima.

O cabelo 4C é alvo certeiro de piadas racistas e comentários de mau gosto. É necessário que pais e mães de crianças crespas busquem informações sobre como tratar o assunto com seus  filhos, não apenas aprender a tratar ou melhorar o cabelo crespo. O mundo vai dizer para a criança termos como cabelo duro, cabelo ruim, cabelo difícil, cabelo pixaim, cabelo Bombril, cabelo sujo, cabelo com piolhos. Cabe aos pais, mães e responsáveis

ensinar às nossas crianças termos como crespo é lindo; eu amo o meu cabelo; todo cabelo tem a sua beleza; cabelo crespo não é duro, é crespo; não precisa fazer cachos para ser bonito; cabelo crespo não precisa ser domado ou alisado; cabelo crespo não é sinônimo de piolho; cabelo crespo é penteado para cima e não para baixo.

É corriqueiro, na minha pro ssão, encontrar mães desesperadas por não saberem lidar com os desafios de ter uma criança crespa. E não é só sobre escolher o tipo de produto, mas sim de como ajudar as crianças a aceitarem os cabelos crespos. As mães me trazem todo tipo de desabafos, coisas como “minha família inteira pede para alisar o cabelo do meu  filho(a)”; “meu  filho(a) é a única criança crespa da escolinha”; “meu filho(a) pede para ter cabelo liso”.

São períodos complicados nos quais precisamos ajudar e dar suporte às crianças. A sociedade tem que tomar conhecimento de tudo que direta ou indiretamente alimenta o racismo, e passar a reforçar o antirracismo. Essa tratativa precisa ser levada para as escolas, clubes, condomínios. As famílias afrocentradas precisam buscar representatividade por elas mesmas. O que se encontra hoje em rede aberta e mídia de massa não alcançará crianças nessa faixa etária. O racismo estrutural está infiltrado no sistema educacional, no sistema de saúde pública e em outros sistemas sociais, dos quais as crianças fazem parte desde o nascimento, mesmo sem entender. Nossos  filhos sentem a energia angustiante do racismo.

Precisamos reagir. Nossas crianças não podem crescer nessa atmosfera, sem serem estrategicamente orientadas nesse sentido. Mães e pais, falem com suas crianças sobre o cabelo crespo, ensinem os pequenos a falar “meu cabelo é crespo”. Fale a palavra crespo todos os dias. Oriente parentes e amigos sobre os termos racistas a serem evitados, como “cabelo duro”, e “cabelo difícil” e não permita que façam parte do dia a dia. O cabelo crespo é bonito como ele é.

CRÉDITOS

PRODUÇÃO: SALÃO PRETA BRASILEIRA

PRODUÇÃO DE ARTE: CAROL ROSA/ GECICA ROSA

STYLIST: ANA PAULA FERNANDES

FOTOGRAFIA: LEANDRO SANTOS

PRODUTORA: ALIVE PRODUTORA E KONG PRODUTORA

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