Meu tempo é agora: 10 anos de cotas raciais

Por: Zulu Araújo

O clima está tenso, a disputa está acirrada e o país está ansioso, além de esperançoso com a proximidade das eleições para a Presidência da República que ocorrerá no dia 2 de outubro. A largada oficial se deu no último dia 16 de agosto, com a posse e um discurso magistral do novo Presidente do Tribunal Superior Eleitoral – Ministro Alexandre de Moraes que de forma contundente afirmou que “Democracia existe para garantir a todos os brasileiros a possibilidade de periodicamente escolherem os representantes”.

Em verdade, o discurso do Presidente do TSE foi um grande alívio e um bálsamo a todos os cidadãos e cidadãs deste país que possui compromisso com a democracia. Por isso mesmo foi aplaudido de pé e freneticamente, por vários minutos, pela maioria dos presentes.  Afinal, a democracia duramente conquistada pelo nosso povo e consagrada na Constituição de 1988 não pode ser jogada na lata do lixo por meio de fake News e ameaças despropositadas.

Ninguém em sã consciência, nesse país, pode ignorar o que estará em jogo nessas próximas eleições, visto que, mas do que a chancela popular para um novo projeto de país, temos que assegurar que o Estado Democrático de Direito continue balizando as relações políticas e sociais em nossa sociedade e que ditadura em nosso país, nunca mais.

E o movimento negro, também tem responsabilidade com essa luta e não poderá se omitir diante de tal desafio. Mas, além do desafio teremos que estar preparados para recompor, restaurar e avançar nas pautas e projetos que foram violentamente interrompidos após o eclipse político de 2016. Há questões incontornáveis que precisam fazer parte dessa nova agenda, a exemplo de políticas públicas que interrompam imediatamente a “matança” que está sendo praticada contra a juventude negra. E neste sentido, tanto o combate as milícias quanto a violência policial nas comunidades negras é fundamental. Ou seja, nem as forças políticas tradicionais, nem muito menos o movimento negro, poderão se contentar apenas com o retorno daquilo que deu certo nos governos anteriores.

E avançar também significa termos novos interlocutores, novas propostas e novas agendas precisam ser discutidas e apresentadas desde já. Uma delas diz respeito a nossa juventude que é a nova etapa da luta pelas Cotas raciais no Ensino Superior. Este mês de agosto estamos completando 10 anos de aprovação pelo Congresso Nacional das Cotas Raciais no Ensino Superior brasileiro e as mesmas devem passar por revisão até 29 de agosto de 2022, Garantir sua continuidade é o nosso objetivo, mas o passo adiante é criar as condições materiais para a manutenção e permanência  dos estudantes cotistas nas universidades, pois a crise econômica é grave e eles estão sendo as grandes vítimas.

Para tanto a assistência estudantil precisará de mais recursos orçamentários e financeiros o que significa dizer, mais verbas para educação,  e isso não se consegue sem que o movimento negro se articule  com o movimento estudantil, com o parlamento e setores progressistas da nossa sociedade. Ou seja, sem Democracia não haverá cotas, não haverá permanência nas universidades, nem muito menos avanços,

Daí que a responsabilidade de compartilhamento de ideias, propostas e espaços precisará sair da retórica para a prática. Mas nada disso terá sucesso se não tivermos propostas novas, claras e exequíveis e  um governo democrático.  

Toca a zabumba que a terra é nossa.

P.S. O título do artigo é do Livro de Mãe Stella de Oxossi lançado em 2010.

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