Mulheres negras: vencendo a guerra e a mutilação genital
A República do Sudão é um país africano que faz divisa com o Egito, popularmente conhecido na grande mídia por seus conflitos políticos. Alguns dos mais importantes e recentes foram: a independência do Sudão do Sul – que devido às diferenças étnicas e políticas votou pela separação – e a queda de Omar al-Bashir – ex-presidente que atuou por mais de 30 anos e impunha leis extremamente rigorosas com base no Islamismo. Por mais que esses conflitos atingissem toda a população, o grupo mais vulnerável a estas ações são as mulheres.
Os conflitos entre Sudão e Sudão do sul culminaram em guerras constantes, diversos são os relatos de maus tratos à população, mesmo após a independência do Sul, em 2011, os conflitos entre ambos e internamente no Sudão do Sul ainda continuam. As mulheres são constantemente estupradas e até usadas como moeda de troca entre os soldados, a violência contra as mulheres é uma arma de guerra de países em conflito. “Nós enfrentamos muitos desafios, quando estamos coletando lenha ou cortando carvão, enfrentamos o problema do estupro. Na família, os homens se tornam muito agressivos por causa da guerra, então eles sequer defendem o direito da mulher.”, afirma uma sudanesa em entrevista à ONU.
Além das questões com a guerra, as mulheres sofrem fortes opressões que os líderes, em nome da religião Islâmica, afirmam serem necessárias. Castigos físicos como chicotadas em praças públicas e a falta de liberdades para tomarem decisões individuais ainda fazem parte do cotidiano para as Sudanesas.
Em abril de 2019 o ex-presidente Omar al-Bashir viu seus mais de 30 anos de governo caírem após constantes protestos populares, que contaram com a participação ativa e expressiva de mulheres, que foram às ruas pedir a saída do ditador que foi acusado de genocidio e crimes à humanidade, além de ser responsável pelas leis que justificavam violências constantes ao gênero feminino. Uma das imagens que ficou mundialmente conhecida foi a de Alaa Salah, uma estudante que saiu em uma foto proclamando em uma manifestação, em um país em que as mulheres não têm voz essa ação se tornou um símbolo de resistência. Em sua conta no Twitter ela afirmou:
“Eu queria subir ao carro e falar com as pessoas… denunciar o racismo e o tribalismo em todas as suas formas, algo que afeta a todos. Queria falar em nome da juventude. Queria expressar-me e dizer que o Sudão é para todos nós. E cada vez que as pessoas respondiam ‘revolução!’ fiquei ainda mais entusiasmada. Precisamos de apoio internacional, de alertar as pessoas para o que está a acontecer e que compreendam as nossas exigências.”
Esse foi um dos marcos que as sudanesas vêm conquistando. Meses atrás foi banida a prática de mutilação da genitália feminina, com punição de até três anos de prisão – de acordo com a ONU, cerca de 87% das mulheres sudanesas têm a genitália mutilada, muitas vezes elas falecem por complicações do corte pelas condições que são feitos, além disso elas têm complicações no parto e infecções de urina. No mesmo ano o casamento infantil também foi proibido.
Em 2019 o Sudão proibiu diversas regras que determinavam o comportamento social das mulheres, como por exemplo usar calça jeans e deixar uma parte do cabelo para fora do véu, tais práticas poderiam ser punidas com chibatadas. Além disso elas ganharam a permissão de viajarem sozinhas sem a autorização de um homem da família.