Mundo: preço dos alimentos sobem e não há perspectiva de baixar

A pressão nos preços dos alimentos não deverá ser temporária, mas vai continuar nos próximos anos. Mesmo com uma produção mundial elevada de grãos, a dinâmica comercial mudou. As dificuldades impostas pela pandemia, aceleradas ainda mais pela guerra entre Ucrânia e Rússia, elevaram os preços dos alimentos para outro patamar. A volta será demorada.

A alta nos preços dos alimentos não é tanto por falta de produto, mas por um desarranjo no comércio mundial. A FAO (Organização de Agricultura e Alimentos das Nações Unidas) estimou a produção total de cereais desta safra em 2,8 bilhões de toneladas, volume 1% superior ao anterior.

As transações internacionais de grãos, no entanto, recuaram 3%, para 469 milhões de toneladas nesta safra. Outro dado que deveria fazer os preços recuarem são os estoques, que sobem 2%, para 851 milhões de toneladas.

Os preços médios de uma cesta básica de produtos (carnes, grãos, cereais, óleos vegetais e açúcar) acompanhados pela FAO estão, contudo, com elevação de 21%, descontada a inflação, em relação a 2008, o período, até então, de maior pressão nos alimentos.

Nestes últimos 14 anos, os cereais tiveram evolução real de 5%, e os óleos vegetais dispararam, acumulando alta de 42%. A aceleração dos preços começou na pandemia, com a demanda crescendo intensamente, devido à formação de estoques de alimentos por grandes consumidores.

O estrangulamento na produção e no comércio mundial de insumos trouxe ao setor custos que não eram vistos há uma década. A guerra entre Ucrânia e Rússia complicou ainda mais essa relação de custos e de produção, elevando os gastos da agropecuária no mundo todo.

O aumento de estoques mundiais relatado pela FAO ocorre devido à permanência de boa parte desses produtos alimentícios nos dois países em litígio. A circulação desses alimentos está muito dificultada; em algumas regiões da Ucrânia, é impossível. Os preços dos alimentos continuarão elevados, devido à ausência dos grãos ucranianos e russos, estes em menor escala, no mercado internacional.

O mesmo ocorre com os custos. Os fertilizantes, que estavam caros devido à forte demanda internacional antes da guerra, subiram ainda mais com a dificuldade de comercialização desses produtos pela Rússia e por Belarus, grandes produtores.

Mesmo que esses países retomem as exportações, a redução mundial de produção de alguns insumos, a alta do custo da energia, e os preços elevados das commodities não vão permitir uma queda de preços a curto prazo.

Os preços dos alimentos mudaram de patamar. A FAO mostra que o principal produto que afeta o bolso do consumidor em todo o mundo são os óleos vegetais.

Maior exportadora de óleo de girassol, a Ucrânia mantém um bom estoque interno, mas não consegue exportar. A ausência do óleo de girassol no mercado internacional elevou os preços dos óleos de palma, de colza, de milho e de soja —este já vinha com uma oferta apertada, devido à quebra de safra de soja nos Estados Unidos, em 2019/20. A quebra, agora, ocorreu no Brasil. A produção da oleaginosa, neste ano, ficou em pelo menos 20 milhões de toneladas abaixo do potencial previsto inicialmente.

Nos cálculos da FAO, os óleos vegetais estão com alta real acumulada de 42% desde 2008. O aumento de preços dos alimentos em 2008 foi provocado pela queda de produção de milho e de soja nas safras 2007 e 2008 dos Estados Unidos. Em 2009, os preços recuaram um pouco, mas voltaram a ficar pressionados por cinco anos seguidos.

O Brasil ganha com essa elevação das commodities, que gera receitas recordes. O consumidor brasileiro, porém, paga preços equivalentes aos internacionais, embora tenha uma moeda fraca.

Nesta segunda-feira (11), a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) divulgou que o óleo de soja acumulou 8% de aumento apenas nos últimos 30 dias. A inflação dos alimentos subiu 3,1% no período, e 7 dos 10 principais produtos de pressão no índice vieram do campo. Pãozinho e farinha de trigo subiram 3,5% e 3,3%, respectivamente.

​Na primeira quadrissemana deste mês, dado mais recente da Fipe, os alimentos participaram com 47% na formação do IPC (Índice de Preços ao Consumidor). No mesmo período do ano passado, o percentual era de 14%.

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