‘Nariz de chimpanzé’: cliente denunciado nega ser racista
O cliente de um restaurante em Artur Nogueira (SP) denunciado por gravar um áudio onde se referiu a um entregador como “cara de bandido e nariz parecendo um chimpanzé” afirmou em uma entrevista que pretendia mandar a mensagem a uma outra pessoa, e não ao contato do estabelecimento.
“Não foi para ele, para empresa ou para o entregador. Foi para uma outra pessoa, um terceiro. Só que em vez de eu mudar o contato do WhatsApp, eu mandei para a empresa”, iniciou.
O motoboy Juan Willian Penteado Carvalho, de 24 anos, registrou um boletim de ocorrência pela internet para denunciar o crime de injúria racial na quarta-feira (8) após ouvir a gravação enviada pelo cliente, identificado como João Carlos, ao restaurante, que fica no Jardim Planalto.
No áudio, ao iniciar a fala, o consumidor reconhece que está prestes a fazer um comentário racista.
“Cara, eu vou fazer um comentário racista porque eu odeio esse cara, tinha que ser preto… Quando vem o entregador preto, cara de bandido e nariz parecendo um chimpanzé”, diz o trecho.
Apesar disso, ao ser questionado pela reportagem, João Carlos negou ser racista. Como não houve flagrante, ele não foi preso e ainda será ouvido pela Polícia Civil.
“Eu? Jamais! Sou nada!”, enfatizou.
Primeira vez
Juan destacou que foi a primeira vez que vivenciou uma situação de preconceito por causa da cor. Segundo ele, o cliente chegou a procurá-lo para pedir desculpas depois do áudio, mas isso não foi suficiente para amenizar o abalo.
“Ele mandou mensagem pedindo desculpas, veio aqui [no restaurante] querendo se desculpar, mas eu nem falei com ele, o patrão não deixou eu sair para fora para falar com ele. Fiquei meio abalado, é triste uma situação dessa”, disse.
Já o tio do entregador reforçou que o caso gerou comoção em toda a família e pediu para que situações como essa não se repitam.
“Fiquei chocado pelo fato acontecido não só por causa da família, por causa dele [motoboy], acho que isso tinha que acabar. Pelos fatos, pelos xingamentos, pelas ofensas que ele [cliente] fez, doeu para a família, doeu para ele [motoboy], uma coisa que ele deveria pagar pelo fato que ele fez. É dolorido”, destacou.
Queria ver a máquina do cartão
O áudio deixa a entender que o cliente, que tinha feito um pedido de marmita de feijoada, teria ficado insatisfeito com o serviço do motoboy após o entregador pedir o cartão dele para passar na máquina de cobrança.
No trecho, ele também chama o profissional de “animal”, “desgraçado” e o cliente também diz que deve ser odiado por ser “branco, alemão e velho”.
“Ele não fala bom dia, ele pega e digita o código lá, o valor, e quer pegar meu cartão pra passar por aproximação. Eu falo, dá a máquina por favor. Eu preciso olhar, cara, pra saber o que o cara digitou, esse animal. E, assim, já aconteceu todas as vezes que ele veio aqui, todas. E eu acredito que ele me odeia, né, por eu ser branco, alemão e velho. Eu acho que ele me odeia. Mas o ódio é de ambas as partes, porque eu odeio aquele chimpanzé, que desgraçado”. O homem ainda ri durante a mensagem.
Investigação
A ofensa foi registrada na Polícia Civil como injúria, crime previsto no Código Penal brasileiro quando ofensa é contra a honra de uma pessoa específica e usa elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem. A pena varia de 1 a 3 anos de prisão.
O boletim de ocorrência, registrado como crime consumado, cita a descrição do áudio, e também que, segundo o motoboy, o consumidor teria tentado se justificar após o áudio “fazendo menção de que seria um desabafo”. O pedido deste cliente é comum sempre às quartas-feiras, no almoço.
A vítima já prestou o depoimento na delegacia e o autor da ofensa também será notificado para dar a sua versão. Esta oitiva deve acontecer nos próximos dias; a data exata não foi definida, disse o delegado. Outras testemunhas, como o dono do restaurante, também serão ouvidas.
FONTE: g1