Niousha Roshani – O combate ao racismo nas redes sociais

Nascida no Irã, mas com a infância e adolescência decorridas na Costa do Marfim, Niousha Roshan é referência global nas questões de raça e gênero. Formada em Harvard, uma das maiores universidades do mundo, seus estudos tem como foco discursos racistas nas redes sociais, principalmente na Colômbia, onde viveu por mais dez anos. Poliglota, a iraniana domina cinco idiomas e conhece bem o Brasil. E sob essa perceptiva, tem muito a dizer sobre problemas em comum que afetam a América Latina.

Seus estudos tiveram início na questão do racismo em redes sociais, mas sua análise hoje vai mais longe fala da violência contra a juventude negra na Colômbia e no Brasil. O que esses países têm em comum, nesta questão?
Meus estudos tiveram início na juventude em contextos de violência, levando-me primeiro para a Colômbia e depois para o Brasil. Infelizmente, a grande maioria dos jovens no meu estudo era de ascendência africana, pois são nos dois países os mais afetados pela violência desenfreada. Ao mesmo tempo, era impossível estudar a violência sem levar em conta o racismo historicamente entrincheirado nos tipos de violência multidimensionais e interconectados nos dois contextos. Vindo da Costa do Marfim, também fui atraída pelas comunidades de ascendência africana na região. Era como se eu estivesse em casa, mesmo estando em outro continente. Brasil e a Colômbia possuem as duas maiores comunidades de afrodescendentes da América Latina e compartilham muitas semelhanças tanto nas dinâmicas e culturais, quanto nas desigualdades estruturais e raciais. Notei que havia e ainda há poucas iniciativas que ligam os dois países. Em 2016, junto com outros três colegas, Paulo Rogério, de Salvador, Nathan Freitas, de Cambridge, nos EUA, e Eduardo Montenegro, de Cali, na Colômbia, montamos uma iniciativa de empreendedorismo digital, AfroLatino Digital, apoiada pelo Google e pela Universidade de Harvard. O projeto reuniu jovens do Brasil e da Colômbia na cidade de Cali, no sudoeste da Colômbia. Os jovens participantes ficaram surpreendidos e muito emocionados com as semelhanças que os jovens de ascendência africana compartilham através das fronteiras, tanto culturalmente, historicamente, e na sua resistência contra a discriminação e as desigualdades raciais como empreendedores criativos. O mesmo acontece com outras comunidades no resto da região e um dos meus sonhos é ajudar a construir pontes entre os diferentes países para que os jovens possam se conectar, se inspirar, co-criar e transformar a si mesmos e suas comunidades. Um dos projetos atuais em que estou trabalhando é o Fórum Global da Juventude Negra, com a colaboração de várias universidades do mundo, do setor privado e até mesmo de políticos que apoiam iniciativas antirracistas, como o membro de congresso afro-britânico David Lammy. O evento destacará, por um lado, as iniciativas de jovens africanos e afrodescendentes em lidar com as limitações estruturais e o racismo sistemático nas suas comunidades e, por outro, unir esforços com os de outros jovens africanos e afrodescendentes para compartilhar seus conhecimentos e competências em empreendedorismo e inovação como motores de mudança.

A violência expressada nas redes sociais pode ser a porta de entrada de outras violências raciais no cotidiano?
Como uma das líderes jovens com quem trabalhei disse uma vez: ‘O digital é o real’. O racismo visto nas plataformas digitais é apenas uma reflexão do racismo histórico sobre qual todos os países da América Latina foram construídos. No entanto, na era digital em que vivemos agora, a informação viaja muito mais rápido do que antes, especialmente discursos difamatórios e a desinformação ou o que é muitas vezes referido como ‘fake news’ como temos visto especialmente em tempos de crise ou antes de grandes eleições políticas. Os danos do racismo digital não estão apenas ligados ao ciberespaço.

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