No topo
Por: Edvaldo Vieira
Ascender na carreira profissional é o sonho e o objetivo de muitos de nós, profissionais do mundo corporativo. Mas para você, meu caro leitor, que almeja chegar ao topo das empresas, com a expectativa de que liderar seja muito prazeroso e reconfortante, não é bem assim. Como uma escada, cada degrau que subimos pesa, cansa, desafia. Liderar adiciona uma carga extra de responsabilidade que não é simples de lidar. O C-Level, como chamamos o topo das empresas, é um ambiente complexo.
Com a propriedade de quem começou a carreira como office boy, até chegar a CEO de uma grande multinacional, posso assegurar que cada passo dessa jornada me trouxe lições que trago até hoje, e que o aprendizado não se esgota ao sentarmos nessa cadeira. Os livros e manuais me ensinaram que definira estratégia, visão, missão e valores da companhia é responsabilidade das mais altas lideranças. Ensinaram-me que formação de equipes, coaching e desenvolvimento de talentos devem estar na veia executiva. Que as definições de investimento e os resultados são parte fundamental da entrega. Que ESG só acontece de verdade quando as práticas trazem, de fato, melhorias sociais, ambientais e na vida das pessoas.
Mas o que nenhum livro ensina é que o CEO não é um super-herói, nem um ser infalível, muito menos insubstituível. É um profissional que já percorreu muitas instâncias e viveu muitas situações que o colocaram nessa cadeira, e que passa a intensificar as funções de construir pontes, alcançar resultados, compartilhar conhecimentos, equilibrar escolhas. Tudo isso concomitantemente ao dever de continuar desenvolvendo suas habilidades e de ter a humildade de reaprender diariamente. E ao fim de todo esse ciclo, que se reinicia dia após dia, reside a solidão. Assim como quando se chega ao topo de uma montanha-cansado, esgotado, feliz – é nesse mesmo lugar que residem as melhores vistas: a oportunidade gratificante de poder fazer a
diferença.
E se a essa altura você está se perguntando como não falei de desafios raciais até o momento, aí vai minha resposta. Se você é negro, multiplique todos esses desafios e responsabilidades por dois, ou três, ou quatro. E acrescente a eles a expectativa dos outros de que uma hora você fracasse. E mais uma pitada de responsabilidade de servir de referência para jovens negros que sonham em chegar onde um dia você
chegou. Aliado a isso, a vontade incansável de tentar fazer a diferença com seu time, sua equipe. E, talvez a parte mais desafiadora, a persistência em diariamente transformar esses desafios em motivação.
Costumo falar que sou um otimista. Vejo um futuro de oportunidades, um mundo em que todos estaremos juntos
nessa jornada. Uma realidade de empresas com ações afirmativas e intencionais. No meu caso, preparação e
oportunidades fizeram meu caminho acontecer. E quando cheguei lá, escolhi atuar em uma empresa onde eu pudesse praticar os meus próprios valores. E assim espero que seja com muitos outros executivos negros ao redor do mundo. Como disse Mae Carol Jemison, médica, engenheira e a primeira mulher negra a ir para o espaço: “Nunca seja limitado pela imaginação limitada de outras pessoas”. Não vamos nos limitar, porque é exatamente lá onde devemos estar: no topo