O ator Jorge Coutinho em entrevista à Raça
Confira a entrevista que Jorge Coutinho deu à Raça sobre a dramaturgia brasileira
TEXTO: Sandra Almada | FOTOS: Eraldo Platz | Adaptação web: David Pereira
Leia trechos da entrevista com o ator, cineasta e homem político, Jorge Coutinho.
O senhor acha que temos boas escolas de dramaturgia no Brasil?
Reconheço que não temos boas escolas, não! Estamos atrás porque, primeiro, hoje em dia, os atores pensam muito em televisão.
E ter como horizonte profissional ser um ator de televisão, implica em não fazer um curso de teatro mais denso, mais sério?
Exatamente. Para ser um ator de televisão se faz um destes cursos profissionalizantes que são de curta duração. O sujeito tem uma cara bonita – e às vezes nem isto – conhece alguém das emissoras ou não e… Por aí a coisa segue. Por outro lado, quando os autores estão escrevendo as novelas já estão pensando em quem vai interpretar este e aquele papel. Fica, então, tudo entre os mesmos, tudo na mesmice. Acho que sinto assim porque não me vejo na televisão, não vejo você, não vejo a família. Também são poucos os atores que chegam aqui no sindicato e dizem: “Eu quero fazer teatro”. Quando ouço isto, fico feliz da vida! Não que fazer televisão seja menor, o que quero dizer é que teatro é o alicerce.
O senhor, um homem de cinema, pode dizer por que não vemos um protagonismo negro na frente e atrás das câmeras, nem na tela grande nem na telinha, ou seja, na indústria do entretenimento, em geral?
Porque é difícil. Você faz seu roteiro, manda (para as instituições de fomento à cultura), mas não sai o financiamento para você! Sai para fulano, beltrano, mas para nós, não sai. É muito difícil. Agora eu quero colocar um filme, um roteiro na Petrobras. Mas não sei se vai sair. A não ser que se brigue politicamente.
Qual a diferença entre brigar politicamente e brigar na condição apenas de artista?
Quando se briga politicamente, se briga de dentro (de um organismo político). Você fica muito mais próximo das pessoas (que se encontram dentro dos centros de decisão). Liga-se e se diz: “Facilita que é nosso!” É feito assim! Se disserem que é o contrário, digo que é mentira. É feito através deste esquema. Se você manda um roteiro, ele vai estar no meio de quinhentos mil outros, e não serão lidos todos. Esta é que é a verdade! É a mesma coisa com testes de atores para uma peça, por exemplo. Às vezes, cobram pelo teste. Vinte mil pessoas vão fazer. Depois, aquelas vinte mil vão assistir à peça, como pagantes, pois têm interesse em ver como o personagem está sendo interpretado, etc. É tudo uma jogada que o ator nem sempre percebe, muitas vezes é carta marcada mesmo. E é triste dizer isso!
Até onde o senhor vai pelo cinema? É uma paixão grande?
É preciso se denunciar algumas coisas. A gente precisa falar sobre e para o nosso povo. Esta questão em que eu bato muito: ‘nós somos 52%!’ Nós temos um município no Rio de Janeiro, o de São Gonçalo, onde 85% da população é negra. É a gente. É o segundo colégio eleitoral do estado, elege um governador. É o que eu digo: o povo tem que tomar consciência disso!
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