O pente garfo e a estética afro
Por Sérgio Malheiros / Fotos: Fabio Audi
No ar em sua 20ª edição, o Big Brother Brasil é um experimento que reflete (de forma sutil e controlada) a ordem comportamental da sociedade em relação a um tipo de “racismo carinhoso” tipicamente brasileiro. Uma forma de descredibilização suave e ponderada que se utiliza de argumentos falaciosos para se justificar.
Babu Santana – assim como todos nós – sofre isso desde que chegou no programa. Dentre os vários fatores, a verdade é que nos 132 anos de fim da escravidão, não houve um processo governista de reconhecimento e inserção social do ex-escravo. O que com o passar do tempo, a despeito da miscigenação, acabou gerando um abismo sócio cultural. Abismo esse que acaba sendo ratificado pela inferioridade numérica de negros entre os participantes. O que não reflete a proporcionalidade étnica real do país.
O pente garfo é um dos maiores símbolos do movimento negro, pois o cabelo é um dos maiores signos de distinção estética. Um símbolo de descoberta da força, da ancestralidade e da beleza da nossa cor. Um símbolo que faz parte do momento de descoberta que fazemos. A descoberta de quem realmente somos. Aconteceu comigo também.
Cresci ouvindo que eu tinha cabelo “ruim”. O que me levou a desenvolver uma vergonha irracional do meu cabelo. Eu cortava, raspava, alisava, na tentativa inútil de ficar um pouco mais parecido com os galãs da televisão. O padrão de beleza europeu nos é empurrado goela a baixo, dia após dia. Atores negros no Brasil ainda precisam buscar as frestas e brechas na produção cultural que é quase exclusivamente protagonizada por brancos. Daí, fica fácil entender o porquê nunca tivemos um homem negro vencendo o programa.
A sociedade brasileira não está acostumada a enxergar o negro como o protagonista da narrativa.