O primeiro santo negro brasileiro

Oswaldo Faustino escreve sobre a espera da canonização de Francisco de Paula Victor que pode se tornar o primeiro santo negro do Brasil

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: istoecampanha.blogspot.com.br | Adaptação web: David Pereira

O Padre Francisco de Paula Victor | FOTO: istoecampanha.blogspot.com.br

O Padre Francisco de Paula Victor | FOTO: istoecampanha.blogspot.com.br

O município de Três Pontas, no sul de Minas Gerais, vive um momento de euforia e expectativa. Ele poderá ser a cidade do primeiro santo negro brasileiro. O fato atrai devotos, romeiros e curiosos, que deverão se multiplicar após a canonização.

A abertura desse processo rendeu ao Pe. Francisco de Paula Victor o título de “servo de Deus”. A etapa seguinte foi o papa declará-lo “venerável”. No momento, faz-se necessária a comprovação de um milagre por sua interseção. Então, ele passará a ser chamado de “beato”.

À confirmação de um segundo milagre atribuído a ele, se tornará “santo”. Filho da escravizada Lourença Justiniana de Jesus, nascido em abril de 1827, numa fazenda de café da cidade sul-mineira de Campanha, o menino sonhava ser sacerdote. A respeitabilidade religiosa se sobreporia às mazelas daquela sociedade escravagista.

A história de Francisco de Paula Victor

Francisco de Paula Victor nasceu muito antes da Lei do Ventre Livre, de 1871, e seu biógrafo não fala na aquisição da carta de alforria. Depois de aprender a profissão de alfaiate e estudar latim e iniciação musical, ele conseguiu ingressar no seminário, sob a proteção do bispo de Mariana. No início foi humilhado pelos demais seminaristas, que acabaram se rendendo à sua serenidade e piedade.

Ordenando-se padre, dois anos depois, com 24 anos, ficou por 14 meses em sua cidade natal. Em seguida, foi nomeado vigário de Três Pontas, que ainda era um povoado, e só foi elevada a cidade cinco anos depois. Exerceu essa função por 53 anos e construiu a atual matriz dedicada a Nossa Senhora da Ajuda. Em sua biografia publicada pela editora Paulinas, o italiano Gaetano Passarelli, consultor da Congregação da Causa dos Santos, o apresenta como epíteto de “apóstolo da caridade”.

Sua atuação religiosa e grande influência na população ajudaram Três Pontas a ser chamada de “cidade piedosa e acolhedora”. Fundou o Colégio Sagrada Família, que reservava boa parte das vagas aos filhos dos mesmos. Dirigiu e ministrou aulas nesse estabelecimento por mais de 30 anos. São muitas as histórias sobre a bondade, a caridade e a extrema pobreza em que vivia o Pe. Victor. Muitas também exaltam seus dons sobrenaturais, inclusive os de cura e de exorcismo. Hospedava com frequência em sua residência desabrigados e leprosos.

Fenômenos inexplicáveis 

Independente da decisão do Vaticano, a população de Três Pontas já o chama de santo desde muito antes de sua morte, em 23 de setembro de 1905, aos 78 anos. Seus restos mortais estão sepultados sob a matriz de Nossa Senhora da Ajuda. Um milagre provável teria ocorrido nesta data: mesmo sem nenhuma forma de embalsamamento, durante os três dias em que foi velado, seu corpo não exalou aroma de deterioração. Ao contrário, todos afirmavam sentir no ar um perfume de rosas.

Contam também que, anos após sua morte, num tempo em que os batizados eram cobrados, um casal muito pobre de lavradores, que não chegou a conhecê-lo, levou o filho à igreja para batizar. Um padre se aproximou e batizou a criança gratuitamente. Eles comentaram esse fato com outras pessoas, que lhes mostraram uma foto de Pe. Francisco de Paula Victor. Imediatamente o reconheceram como sendo a pessoa que batizou a criança.

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