Olodum, 43 anos da jornada do coração
João Jorge Rodrigues – Presidente do Olodum
Uma energia vital surgiu na capital dos baianos com a fundação do Bloco Olodum, em 25 de abril de 1979, na rua Santa Isabel, na casa do saudoso membro do Conselho Consultivo do Bloco Olodum, o ogã Martins. Este fato, a fundação do Bloco, gerou uma incrível jornada de um coração pulsante e irradiador de grandes novidades na cidade de Salvador (BA), beneficiando a uma parcela significativa da nossa gente: negros, brancos e mestiços, adultos e crianças do Centro Histórico e dos bairros periféricos, com um grande projeto socioeducativo e cultural.
Começamos com um Bloco Afro, na sequência veio o projeto social intitulado Rufar dos Tambores que, ao crescer, se transformou em Escola Criativa Olodum. Uma banda de samba reggae foi incorporada ao projeto, que em conjunto com o Bando de Teatro, fizeram o coração do Olodum irradiar uma grande luz para o Pelourinho. Com isso, o Centro Histórico da cidade recepcionou uma nova cultura com ares cosmopolita, pan-africana, pacífica e recheada de símbolos novos para a antiga cidade dos baianos. Cabe agora, à memória digital, contar e revelar, como foi esta aventura fantástica de fazer com que a arte e a cultura afro-baiana circulassem mundialmente por meio do Samba Reggae.
O Coração do Olodum tem sido o Pelourinho, que pulsa com a batida perfeita dos tambores, com a criatividade dos compositores, o canto dos cantores e com a educação que contou tantas histórias civilizatórias, a exemplo da Revolta dos Búzios de 1798, do Egito dos Faraós, Madagascar, Etiópia, a Nubia (Sudão), Lampião, Maria Bonita e Dadá e, da tecnologia cultural, que trouxe à Bahia cinquenta e cinco personalidades, entre elas: Paul Simon, Jymmy Cliff, Spike Lee, Michael Jackson, Alpha Blondy, quatro prêmios Nobel da Paz, as visitas aos países africanos, e a torcida pela Seleção Brasileira nos períodos de Copa do Mundo.
O Coração, desde os começos dos tempos, tem uma importância simbólica. Na medicina é fundamental, no Egito antigo era o órgão importante para a vida e para a eternidade, após a ressureição. Para os médicos africanos do Egito, o coração vivia a jornada do corpo, amava, chorava , sofria e, no final da vida, deveria estar com muitos furos pelas alegrias e dores da vida. Ainda assim, ao morrer, o coração do morto era preparado para o julgamento da Deusa Matt, no tribunal de Osíris, com seus 42 juízes, sendo colocado em uma balança com uma pena e deveria ser mais leve que esta, para assegurar a vida eterna.
A jornada do coração entre nós é uma contagem dos dias que homens e mulheres, jovens e idosos, deram suas vidas para o sucesso e apogeu do Olodum, uma saga da igualdade e uma caminhada para o juízo final: o que fizemos, por quem, como, e o quê ainda temos que fazer.
O coração do Olodum, a música, a escola, o Bloco Afro estavam com saudades do carnaval, dos shows, da Escola Criativa Olodum funcionando, e quer bater mais forte agora aos 43 anos, em uma onda de renascimento que envolve a nossa alma e, como uma fênix, lá vai o coração do Olodum batendo em sintonia com os tambores do Samba Reggae, como um guia para a esperança de milhares de pessoas. Assim, seguimos os caminhos da vida e a jornada do coração continua agora, para o encontro do cinquentenário, em 2029.
O coração baticum!..