PALMARES E A CONSCIÊNCIA NEGRA NO SÉCULO XXI

 

A Fundação Cultural Palmares foi criada em 22 de agosto de 1988, ano do Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, com objetivos muitos claros: valorizar, difundir e preservar as manifestações culturais de origem negra no Brasil para ajudar a promover a inclusão plena dos negros na sociedade brasileira, visto que as sequelas dos mais de 300 anos de escravidão, além de serem visíveis por meio do racismo, da discriminação e da exclusão da maioria da população negra dos seus direitos mais fundamentais, se não combatidas tenderiam a se perpetuar.

Além disso, a Fundação Cultural Palmares, foi fruto da mobilização de parcelas significativas do movimento negro e da sociedade brasileira, embalados pelo processo de redemocratização do país, que culminou com a promulgação da nova Constituição brasileira, a chamada Constituição Cidadã, que assegurou na Carta Constitucional que todos são iguais, independente de raça, religião, cor ou origem social, mas que para tanto, é obrigação do Estado promover as condições que materializem a consecução desses princípios. Portanto, a Palmares surge para não só promover a cultura afro-brasileira, mas também para combater o racismo (que é crime no Brasil), a intolerância religiosa e reconhecer as terras remanescentes dos quilombos.

Sendo a Fundação Palmares uma instituição do Estado Brasileiro, pois foi criada pelo Congresso Nacional, via projeto de lei, qualquer interpretação que fuja desse principio básico que originou a Fundação e que se encontra explicitamente consagrado nos seus Estatutos, deve ser rejeitado de forma contundente,  pois contraria a Constituição e o desejo da maioria da população brasileira.

Daí, defender a Fundação Palmares e moderniza-la para os desafios do século XXI, não pode se traduzir em negar o racismo óbvio e ululante que grassa em nosso país, nem defender a extinção do movimento negro brasileiro que tanta contribuição tem dado a sociedade, mas sim  celebrar a esperança de termos em breve, muito em breve, um Brasil livre das desigualdades econômicas e sociais que de forma brutal e escandalosa o mantém acorrentado no atraso político e na insensibilidade social.

É defender um Brasil livre da intolerância religiosa que cresce em nosso país de forma violenta e vertiginosa como se fosse erva daninha e subtrai o direito inalienável do nosso povo a liberdade de crença e a liberdade religiosa. É  defender um Brasil livre da violência que assola o país, em particular contra as mulheres e a população negra, e que tem dizimado milhares de nossos cidadãos e cidadãs, ano após ano, com números estarrecedores (mais de 300 mil jovens assassinados nos últimos 10 anos, 77% negro), segundo o Mapa da Violência e até mesmo as Nações Unidas.

Não foi à toa que a Organização das Nações Unidas, em 2001, na sua histórica declaração de Durban, assinada por 152 países, dentre eles o Brasil, afirmou de forma categórica:

  • “Reconhecemos que a escravidão e o tráfico escravo, incluindo o tráfico de escravos transatlântico, foram tragédias terríveis na história da humanidade, não apenas por sua barbárie abominável, mas também em termos de sua magnitude, natureza de organização e, especialmente, pela negação da essência das vítimas; ainda reconhecemos que a escravidão e o tráfico escravo são crimes contra a humanidade e assim devem sempre ser considerados, especialmente o tráfico de escravos transatlântico.”

Enfim, defender a Fundação Palmares, nos dias atuais, diante de tantos absurdos e desrespeitos que o país vem passando, é defender um Brasil que acolha a todos e todas, respeitando a diversidade e pluralidade da nossa gente, do nosso jeito de ser, das nossas manifestações, sejam elas, culturais, sexuais ou religiosas. Ou seja, é defender um Brasil, verdadeiramente democrático, sem que o ódio, a mentira e a desfaçatez sejam instrumentos para a perpetuação da ignorância e do racismo.

É isto, que Zumbi dos Palmares e seus ideais representam para a sociedade brasileira nos dias atuais – a luta permanente pela valorização do ser humano e do seu direito inalienável de viver de forma digna

 

VIVA ZUMBI DOS PALMARES

VIVA A FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES

 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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