Pedagogia do Constrangimento

por: Zulu Araújo

Há muito tempo não vejo uma ação no mundo da comunicação, tão efetiva e tão contundente no combate ao racismo, quanto a que foi ofertada em primeira mão pela Revista Raça, essa semana, sobre o lastimável episódio de discriminação protagonizado pela apresentadora Talitha Morete, no programa “É de Casa”, da rede Globo de Televisão.

A leitura precisa sobre o racismo que presidia a ação da apresentadora ao convidar para “servir” os presentes, uma convidada, a cozinheira Silene, é desses momentos que nos enche fúria de um lado, por ver mais uma vez uma pessoa negra sendo discriminada em público, ao mesmo tempo em que nos enche de orgulho, saber que vale a pena ter um veículo de comunicação que tenha a cara preta, seja conduzido por pretos/as e esteja atento ao racismo estrutural que permeia toda a sociedade brasileira.

Ao expor o episódio em publico sem os temores que cercam parte dos comunicólogos hoje contratados ou não, o veiculo RAÇA teve o papel não só de apontar, mas também de ressaltar a atitude do colega da apresentadora, Manoel Soares, que de pronto interrompeu de forma firme e elegante o ato despropositado, revela coragem e merece não apenas elogios, como também o reconhecimento de que este veículo de comunicação está comprometido com a luta permanente de milhões e milhões de brasileiros/as pela promoção da igualdade racial em nosso país e que não deixará passar em ”branco” situações como essas.

Até porque, o racismo está tão entranhado em parte da sociedade, que o ato em si, poderia passar despercebido do grande público, tal o grau de “naturalização” que o racismo alcançou no país.

O verbo servir para uma parcela da população brasileira (branca) parece estar ligado de forma indissolúvel e indissociável a cor da pele ou a origem social de quem o pratica. Tanto o é, que o gesto de mandar servir a cocada veio acompanhado de um abraço e um beijinho que consolidava o lugar de cada um naquele espaço.

Tenho afirmado constantemente nos meus pronunciamentos de que “Racismo Estrutural” não é algo abstrato e que deva ser banalizado como justificativa para os racistas que insistem em não reconhecer que os tempos são outros e de que a comunidade negra não tolera mais e nem deixará sem o devido repúdio suas manifestações. Racismo estrutural é uma prática que possui várias formas, vários jeitos e várias nuances, mas que em todas elas está presente a prática da discriminação concreta, materializada por pessoas, que devem ser devidamente punidas: “Todas as vozes contra o racismo e todas as leis contra os racistas”.

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