Pelas lentes de corpos negros
Por: Flávia Cirino – EDIÇÃO 212
Ceilândia, cidade satélite de Brasília, respira arte. E foi no projeto Jovem de Expressão que Ester Cruz, Luiz Ferreira e Marconi Silva, encontraram na fotografia uma grande paixão. Os três fizeram parte do projeto, voltado para jovens da região, através de oficinas e cursos variados. Lá, a prioridade é para jovens periféricos, principalmente
negros e LGBTQ+. Luiz foi o primeiro a concluir a formação em fotografia e fez diversos ensaios com a temática racial. Entre seus cliques estão em destaque o genocídio da juventude negra, a relação da masculinidade negra, entre outros.
Estudante de Artes Visuais na Universidade de Brasília (UnB), ele teve, no ano passado, uma foto exposta na Patchogue Arts Gallery, em Nova York, nos Estados Unidos. Marconi Silva, de 38 anos, cursa Artes Cênicas na
UnB, onde tem um projeto que retrata estudantes negros. Mesmo sem material próprio, usando equipamento emprestado, ele expressou sua forma de protesto. A ideia inicial era espalhar lambelambes pelo campus, mas ficou restrita à Diretoria de Diversidade da UnB, de forma permanente.
Em novembro, por conta das comemorações da Consciência Negra, o projetosempre é ampliado para o
Centro de Convivência Negra. “Está cheio de fotografia de corpos brancos. Eu queria falar do meu povo, mostrar que estamos resistindo. Creio que um estudante negro, vendo mais alunos negros, seja por foto ou presencialmente, vai se sentir melhor representado, sem ter aquela sensação de que ele é o único ou um dos poucos negros no curso. Todos sabem que a política de cotas foi algo importante para que o número da população negra na universidade aumentasse. Mas, mesmo assim, a quantidade é pouca. Fora a questão na permanência, porque a gente lida com o racismo diariamente. A gente lida com a cobrança de ser destaque, de se esforçar o dobro”, afirma Marconi.
Ester Cruz, 21 anos, vive da fotografia e sonha em trabalhar no ramo da moda. Sua primeira relação com a fotografia foi num curso de Artes, em Ceilândia e, na sequência, integrou o Jovem de Expressão. “Nunca tive representatividade, não me via nos meios de comunicação. Na fotografia, tanto os profissionais quanto as pessoas fotografadas, nunca me representaram de forma não estereotipada. Por isso, busco exaltar a pele negra. Mesmo enfrentando o racismo, sempre. Na faculdade, são olhares de reprovação quando falo sobre a temática.”