Pioneirismo na dermatologia de pele negra

po: KATLEEN CONCEIÇÃO

[Texto da edição 206/2019]

Eu ia fazer Pediatria. Mudei no meio do caminho. O meu pai já era Dermatologista. Comecei a dar muito plantão em Pediatria e vi que, realmente, era complicada até pela qualidade de vida, e migrei para a Dermatologia.

Chegava um ambulatório de peeling e as pessoas me encaminhavam os pacientes negros. Até que que perguntei a um deles, Sr João, porquê as pessoas negras vinham para mim.

“Eles dizem que a senhora é quem sabe atender pele negra”. E eu indaguei. “Ah, é? Eu nem sabia disso”.

O racismo é tão velado que a gente nem questiona quando não se vê. E aí fui a um congresso em São Francisco, nos Estados Unidos e encontrei vários dermatologistas negros conversando. Fui até eles e me levaram para uma aula de oito horas sobre pele negra, assisti sozinha. Chamei minhas amigas, mas elas não quiseram ir, preferiram ter outras aulas. Durante essas oito horas, chorei e me questionei. Sou evangélica e conversei com Deus: se o Senhor está colocando essa oportunidade no meu caminho, eu quero estudar e ser referência no meu país.

Voltando para o Brasil, a primeira pessoa que atendi com essa patologia que precisou de uma abordagem diferenciada para a pele negra, foi a Mercedes Araújo, mãe da Taís Araújo. Depois de estar curada, ela me encaminhou a Isabel Fillardis, que tinha uma patologia de difícil tratamento, e veio também o Lázaro Ramos, que precisava ser um galã na novela

Representatividade

Insensato Coração, na Globo, com uma pela incrível. Deles, vieram outros pacientes, como Cris Vianna e Preta Gil. Todo mundo fala que sou a médica dos famosos. Mas sou uma médica Dermatologista Clínica com formação principalmente em patologias da pele negra e aplicação de laser específico para a pele negra. Os famosos me dão notoriedade, visibilidade para que as pessoas venham ser tratadas por mim no setor da pele negra no Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde eu atendo há sete anos.

Comecei a fazer um trabalho para pessoas carentes no Hospital de Bonsucesso, também no Rio, mas fechou. Passei então para a Santa Casa de Misericórdia, onde sou chefe há seis anos. Eu não divulgo esse serviço porque muitas pessoas negras que tem condições o utilizam para se bene ciar. Eu tiro um dia na semana para atender pessoas com patologia de pele negra que não teriam condições de estar no meu consultório.

Tomei a iniciativa de solicitar que todo paciente que venha para o ambulatório na Santa Casa, tenha que ter encaminhamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele passa pelo ambulatório geral, os médicos residentes avaliam e passam para o ambulatório de pele negra. Não pode simplesmente chegar e marcar. Quero atender a todos. Sem privilégios.

Veja mais: 8 mitos e verdades sobre a pele negra de acordo com a especialista Katleen Conceição

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