POESIA NA PERIFERIA
Conheça a história do Sarau do Binho
TEXTO: Cláudia Canto | FOTOS: Vladi Victorelli | Adaptação web: David Pereira
As grandes periferias do Brasil, bares e igrejas podem ser encontrados em quase todas as esquinas, e o mais inusitado é que, muitas vezes, estão separados apenas por uma única parede. A cultura? Bem, essa quase sempre está do lado de lá, depois da ponte (gíria usada por poetas das periferias, quando se trata de situar geograficamente os bairros onde moram). Nas periferias não há museus nem teatros, e as bibliotecas contam-se nos dedos. Nesse cenário, o que ninguém esperava é que a poesia e suas vertentes fossem nascer (e dar ótimos frutos) justamente naquele boteco da esquina. No Campo Limpo, por exemplo, a segunda-feira veste-se de vermelho e vem com força total. É o Sarau do Binho – uma referência no bairro – que, há oito anos, reúne poetas, escritores, intelectuais e uma boa parcela da própria comunidade. Na ocasião, muitos expressam suas ideias por meio de diversas linguagens artísticas. É um intercâmbio cultural!
Lá, as pessoas passaram a viver a poesia no seu cotidiano e isso se reflete automaticamente na autoestima e na postura da população. O espaço é simples e as mesas apertadas são disputadas a cada início de semana. Quando não há mais lugar, o jeito é ocupar a rua para não perder o “evento”. O sarau se tornou tão popular que já virou matéria de vários veículos de comunicação, inclusive programas de TV, além de teses universitárias. E não é para menos, cerca de 80% da população do Brasil está nasperiferias, ou seja, uma esmagadora maioria que, aos poucos, vem descobrindo o seu valor.
“Conheci a poesia através da ‘biodança’, um curso que fiz em 1995, desde então, ela começou a fazer parte da minha vida”, diz Paulo Paion, mais conhecido como Binho, o responsável pelo sarau. Tudo começou de maneira despretensiosa, em uma roda de música que acontecia nos finais de semana em um bar vizinho ao que hoje acontece o sarau. Velas eram acesas nos cantos do bar, e o clima do local ficava amistoso. Envolvidos naquele ambiente, as pessoas começaram a sentir necessidade de recitar poesias. “Um pedia daqui, outro dali, a coisa foi acontecendo esporadicamente, sem grandes pretensões. Passei a colar poesias nos postes, dando origem ao movimento Poestesia, mas não ficou só por aí. Também cobríamos as placas de propaganda política com poesia e tinta”, explica Binho