Professora de Franca recebe prêmio “Personalidade do Ano”
No Prêmio Faz a Diferença do último mês de março, realizado pelo Jornal O Globo no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, a professora e pesquisadora de Franca, Joana D’arc Felix de Souza, de 54 anos, recebeu o prêmio “Personalidade do Ano de 2017”, por seu trabalho de inclusão de estudantes no universo da pesquisa científica em Química.
“Acima de tudo, foi uma noite que valorizou e coroou a educação, que trouxe tudo na minha vida”, diz a professora, sobre o evento na capital do Rio de Janeiro. Nascida em Franca, de família humilde, Joana teve contato com a Química desde pequena. O pai trabalhava em uma casa de curtume, local de fabricação de peles finas e de couros.
Logo aos quatro anos de idade, ela se encantou com o jaleco branco utilizado pelos funcionários da fábrica. Sua mãe, que era faxineira, a incentivava a ler textos de jornais desde pequena, o que fez Joana inventar seus próprios passatempos, como marcar palavras iguais da mesma cor por todas as folhas que recebia da mãe. Com a mesma idade, Joana iniciou a 1ª série.
“A primeira vez na escola não foi fácil. Lembro que uma das professoras disse para nossa classe que nós nunca seríamos nada na vida. Eu chegava em casa triste, mas meu pai sempre me dizia para eu não deixar de estudar, porque um dia eu iria provar que aquela professora estava errada”, lembra a pesquisadora.
Impulsionada pelas palavras do pai, Joana concluiu o Ensino Médio com apenas 14 anos e logo foi aprovada na Faculdade de Química na Unicamp, em Campinas. “Demoramos para encontrar um lugar para morar, acabei ficando em um pensionato. No almoço do bandejão da universidade eu pedia pãezinhos para as moças que serviam comida, para que eu pudesse comer nos finais de semana”, ela comenta.
No entanto, a impressionante inteligência prematura de Joana chamou a atenção dos professores da faculdade, fazendo com que ela recebesse uma bolsa de alimentação e de transporte por um trabalho no laboratório de Química, onde ficou até o fim da graduação. Aos 19 anos, ela se tornou Mestre pela Unicamp.
Em sua primeira oportunidade de desenvolver projetos de pesquisa no exterior, a professora morou em Clemson, pequena cidade da Carolina do Sul, no Sul dos Estados Unidos, região de onde emergiram movimentos racistas, como o grupo Ku Klux Klan. Para a pesquisadora, foi um período em que ela se sentiu invisível. “Passei por dificuldades e sofri preconceito por ser negra, mas recebi a ajuda de brasileiros que moravam por lá”, conta Joana.
Por suas publicações em revistas científicas, a pesquisadora foi convidada, aos 25 anos, a realizar o seu pós-doutorado em Harvard, uma das universidades mais renomadas de todo o mundo, localizada em Boston, cidade com mais de 5 milhões de habitantes. Lá, ela teve uma experiência mais enriquecedora e encontrou maior aceitação do povo ao seu redor, além de conhecer uma grande quantidade de brasileiros.
Hoje, Joana coleciona mais de 50 prêmios e é coordenadora, há 10 anos, na Escola Técnica Estadual (ETEC) Prof. Carmelino Corrêa Júnior, conhecida como Escola Agrícola de Franca, onde também leciona os cursos técnicos de Meio Ambiente e Curtimento, este último especialidade de Joana desde criança, graças ao pai. Nas palavras da educadora, parte de seu trabalho é trazer para a escola jovens carentes, que se envolveram com drogas e que estejam desacreditados de que possam ter sucesso na vida, devido à cor da pele ou de onde vieram.
Enquanto seus orientadores dos Estados Unidos não se conformam que ela decidiu voltar para o que, segundo os pesquisadores, é o fim do mundo, Joana não se arrepende de ter voltado ao lugar onde cresceu. “Foi a melhor decisão da minha vida voltar para Franca. Aqui, posso ensinar a esses jovens que eles podem chegar muito longe na vida. Cabe a nós, educadores, fazer a diferença”, conclui Joana, que está com uma palestra marcada para contar sua história na Ohio University, nos Estados Unidos, em junho deste ano.