OPINIÃO. Há uma semana, não se fala de outro assunto nos perfis e canais de comunicação dedicados ao hip-hop — e também na grande imprensa. O desentendimento entre os irmãos Fióti e Emicida ganhou tanta repercussão que foi parar no Fantástico, programa de maior relevância do gênero.
Obviamente, todos querem saber quem tem razão nesse caso e quais são, de fato, os elementos que levaram os irmãos à disputa judicial.
Mas, para nós que há quase 30 anos comunicamos sobre assuntos de interesse da maior parcela da população brasileira – a população negra, está nítido que quem já está saindo perdendo nessa disputa é o elemento mais conhecido da cultura e movimento hip-hop: a música rap.
Os irmãos, artistas e empresários, construíram não só a carreira do rapper Emicida, mas também uma forte empresa que começou vendendo CDs do Emicida e algumas poucas peças de roupa — e que agora participa de semanas de moda e agencia a carreira de muitos outros artistas da cena rap brasileira.
Antes, esse tipo de articulação era denominado “posse” ou “banca”. Hoje, são empreendimentos com números superlativos, na casa dos milhões.
A relevância do gênero rap no Brasil é incontestável. Em reportagem da Billboard, o país foi o terceiro que mais ouviu rap no mundo, em 2022, segundo dados do Spotify. Isso mostra o impacto cultural e econômico do gênero, que hoje lidera rankings de audiência e influência entre o público jovem e periférico.
Portanto, ainda que seja necessário comunicar e saciar a curiosidade da audiência, chamar a atenção para o impacto desse desentendimento nos negócios do rap, para os negócios de gente negra, se faz necessário.