Raça indica: LIVROS
Por: Márcio Barbosa
Pra quem estava aguardando a indicação de livros da semana ela chegou! A RAÇA preparou três exemplos afrocentrados para enriquecer sua literatura! Acompanhe:
QUILOMBELLAS AMEFRICANAS: COLETÂNEA POÉTICA — VOL. 1
Ana Rita Santiago, Cláudia Santos, Mel Adún (organizadoras)
Juntando palavras existentes para criar novos termos e significados, o título deste livro sugere a ideia de resistência e beleza. A obra reúne poetas brasileiras que já possuem trabalhos extremamente significativos, como Cristiane Sobral, Elizandra Souza, Esmeralda Ribeiro, Geni Guimarães e Fátima Trinchão, dentre outras. Traz também uma poeta de São Tomé e Príncipe. No total são doze escritoras. Como em toda antologia, as autoras trazem bagagens diferentes e conceitos estéticos diversos. O que as une é a consciência de serem quem são e a necessidade de romperem o silêncio. Exercem o direito de falar de si e da trajetória coletiva, mas, mais do que isso, procuram traduzir as reflexões sobre a existência criativamente, por meio dos instrumentos que a linguagem proporciona. O que chama a atenção no livro é que são vários os momentos em que a afetividade vem à tona, como nos versos de Gonesa Gonçalves: “Minha boca: / Recipiente / De conter os rios / Que transbordam / Do seu corpo”; ou nos de Elizandra Souza: “Te abrigo no vão do meu umbigo / Aconchego tua sabedoria na minha nuca”. Mas outras verdades são expressas, como na poesia de Fátima Trinchão: “Pele preta / Preta é a pele / Beleza que me acaricia”. As mulheres afro-brasileiras têm vivido uma história de resistência neste país, e cada vez mais fazem com que essa história seja registrada em contos e poemas. Afinal, como afirma Esmeralda: “escrever é a linha invisível / que divide a loucura da sanidade / quando escrevo / minha ancestralidade / está presente”.
DIÁSPORAS IMAGINADAS
Kim D. Butler e Petrônio Domingues
“Diáspora” é um termo relacionado à história da dispersão do povo judaico ao longo dos séculos, mas que passou a ser usado também em relação à história de outros povos, como os que foram tirados da África e espalhados pelo mundo. Desde a década de 1960, o termo “diáspora africana” vem sendo usado para
descrever a experiência dos descendentes de africanos enraizados em diferentes países. A americana Kim D. Butler e o brasileiro Petrônio Domingues nos trazem, nesta obra, uma investigação sobre o conceito de diáspora. Além disso, procuram mostrar os diálogos e influências mútuas desses povos afros dispersos. Nesse sentido, analisam a relação entre negros brasileiros e americanos existente já nas primeiras décadas do século XX, relação que se deu entre as pessoas que faziam o jornal afro-americano Chicago Defender e a Frente Negra Brasileira, por exemplo. Os autorxs também passam pela africanidade explícita do carnaval de Salvador, que vem desde o início do século XX, mas que se consolida na década de 1970, quando são criados blocos como Ilê
Aiyê, Olodum, Muzenza, dentre outros. Esses blocos trouxeram referências estéticas de vários pontos da diáspora, como os EUA, onde o movimento black power fizera do cabelo um símbolo de identidade e resistência, e a Jamaica, influência que resultou na batida do samba-reggae. O livro nos ajuda a constatar que, embora dispersos pelos vários continentes e aparentemente isolados, vamos construindo relações que nos possibilitam reinventar o conceito de superação.
MEU PAI VAI ME BUSCAR NA ESCOLA
Texto e ilustrações: Junião
O menino tem três anos e todo dia espera o pai ir buscá-lo na escola. Quando o pai chega, com dreadlocks nos cabelos, o menino se despede dos amigos e professores. O caminho até a casa parece uma viagem mágica. As pessoas, os carros, a chuva, tudo ganha uma cara diferente. É que o menino usa os olhos da imaginação. Se chove muito, o pai faz surgir um submarino. Se é preciso ir mais rápido, o pai se transforma num balão e os dois voam, olhando as pessoas lá do alto. Ao chegarem em seu lar, a magia continua e, para dar banho no menino, escovar seus dentes e arrumá-lo, o pai tem que se transformar num polvo. Depois, olhando a Lua, os dois aguardam a chegada da mãe. Ao lado do pai, o menino desbrava o mundo e o que vemos é a relação de
afeto e cuidado que vai se construindo no cotidiano dos dois. Assim como a maternidade, a paternidade é um papel que apresenta vários desafios, especialmente para os homens negros, cuja trajetória geralmente é feita por um caminho que exige muita superação, o que muitas vezes dificulta uma aproximação com os filhos e a construção de uma imagem positiva do pai por parte deles. Felizmente, como no livro do jornalista e ilustrador Junião, são muitos os pais negros que amam, protegem e lutam por seus filhos.
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