Raça Indica: Maternidade tem cor?, de Luara Paula Vieira Baia
Lançado neste ano de 2021, pela Editora Appris, o livro de Luara Paula Vieira Baia, “Maternidade tem cor?”, acende o debate e coloca em primeiro plano as narrativas de mulheres negras sobre a maternidade.
A partir de um estudo, a autora conseguiu apresentar diferentes narrativas de mulheres negras sobre esse universo. Só isso já faz o livro interessante, porque expõe a diversidade entre as mulheres negras.
Segundo a autora, ainda no prefácio, o estudo se justifica “[…] pois é importante que mulheres negras tenham suas perspectivas ouvidas e divulgadas no Brasil, cuja sociedade é patriarcal e racista e onde essas perspectivas são frequentemente ignoradas ou diluídas nas discussões que falam sobre as -mães’ de um ponto de vista universal e, por isso, não alcança particularidades como o racismo e a desigualdade racial que atingem de forma, muitas vezes, violenta a vida das mães negras”.
Para mim, mulher negra, filha e neta de mulheres negras, o livro agiu como um caminho a ser trilhado para conhecer e entender mais a minha própria mãe e avó paterna e a forma como elas vivenciaram a criação de seus filhos e filhas.
Ficou nítido para mim que o contexto e a experiência de se entender como negra, informa o que é ser mãe, suas preocupações, estigmas, quebra de paradigmas e um universo de sentimentos e ações, ainda que elas sejam diversas em história e opções.
Essa diversidade é exposta a partir da seção 2: “Para cada mãe uma maternidade”, quando a autora escuta e registra as narrativas sobre maternidade de seis mulheres. Os assuntos são variados e perpassam a criação dos filhos, a maternidade enquanto espaço de poder e a maternidade como território de resistência, entre outros assuntos.
O fio condutor é, sem dúvida, a raça, às vezes mais do que gênero na minha percepção. Por isso, indico fortemente a leitura do livro também por mulheres não negras. Seria de grande valia que pudessem conhecer um pouco sobre a maternidade preta. Possivelmente, o risco de equívocos do passado se repetirem sobre a interpretação da maternidade seria significativamente reduzido.
Eu não poderia deixar de registrar que o fato da autora ter explicitado que a escrita de Maya Angelou a inspirou, me levou com mais curiosidade para as narrativas registradas na publicação. Maya é também uma inspiração para mim e, graças a ela, e sua poesia inconfundível, eu ainda me levanto.
Por fim, fico imensamente feliz de a autora ter superado o obstáculo do medo e da insegurança. Decerto, a obra de Luara Paula Vieira Baia é relevante para mães, filhos, filhas, filhes, pessoas negras e não negras. Não enxergo qualquer risco de ostracismo negro e aguardo ansiosa novas escrevivências. 😉
Segundo a editora, o livro Maternidade tem cor? Narrativas de mulheres negras sobre maternidade lança um olhar singular sobre a experiência da maternidade, trazendo não só questionamentos a respeito da visão que a sociedade tem sobre esta, mas também as vozes de mulheres negras que vivem essa experiência.