Racismo: um crime premeditado

Inédita e histórica, a condenação por unanimidade,pelo júri popular do Estado de Mineapólis (EUA), do policial Derek Chauvin – o assassino do negro americano George Floyd, ocorrida em 25 de maio de 2020, em plena luz do dia. Inédita porque esta é a primeira vez que um policial branco é condenado naquele Estado por conta do assassinato de uma pessoa negra. E histórica porque além de abrir caminho para a mudança de postura da justiça americana que sempre atuou em defesa do corporativismo policial, também possibilitará o reconhecimento do racismo de que estas ações estão impregnadas, assim como impactará inúmeros outros países, dentre os quais o Brasil, onde situações semelhantes tem ocorrido com grande frequência. 

É bem verdade que a pressão mundial pela condenação era gigantesca, visto que o mundo inteiro estava de olho para a decisão da justiça americana, pois meses antes milhões de pessoas haviam se mobilizado, não só condenando o ato animalesco do policial como exigindo uma resposta a altura da justiça americana. Também havia um enorme receio, por parte das autoridades americanas de que o país vivesse uma convulsão social de dimensões imprevisíveis, caso o policial assassino fosse absolvido

Segundo o Presidente norte americano Joe Bidenesse foi “Um passo gigante para a Justiça nos EUA”. Na mesma linha, sua vice-presidente a afro americana Kamala Harris afirmou, “Aqui está averdade sobre a injustiça racial”. Por mais céticos que sejamos, convenhamos, não é todo dia que temos as duas maiores autoridades da maior potência do planeta se pronunciando ao vivo por conta do julgamento do assassinato de um afro-americano. Claro que muita estrada terá que ser percorrida, muita luta terá que ser travada e muito protesto terá que ser feito. Mas, um passo importante foi dado e não há como negar.

Importante perceber que nesse veredicto, não está em jogo apenas o cumprimento de um rito da justiça penal em um caso banal. Mas sim, a própria imagem dos Estados Unidos enquanto país que se diz defensor dos direitos humanos. As cenas chocantesque o mundo presenciou, gravadas em vídeo por uma adolescente, foram decisivas para a condenação. Foram nove minutos e 39 segundos de pura tortura, de desprezo pela vida humana e de racismo em estado concentrado. A explosão de gritos e abraços da multidão celebrando a condenação em Mineapólis de forma explosiva, nada mais era do que o reconhecimento de que a justiça tinha sido feita e de que a alma estava lavada. 

Outra dimensão histórica inexorável desse episódio, é que apesar da vida humana perdida a condenação exemplar desse assassino, funcionará para os Estados Unidos, assim como para o resto do mundo,como um sopro de esperança de que vale a pena lutar para que a violência policial e o racismo que se abate contra as comunidades negras mundo afora seja ao menos contida. 

Quiçá esse exemplo, assim como a campanha “vidas negras importam” que mobilizou milhões de pessoas e ganhou corações e mentes por onde passou se faça presente em nosso país de maneira real e efetiva e que assim sensibilize a nossa sociedade, nossas autoridades, notadamente o Poder Judiciário e o aparato de segurança do Estado (policias civis e militares), bem como o Poder Executivo, para darem um basta nesse verdadeiro genocídio que é cometido contra a população negra, mormente nos bairros populares e periféricos. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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