‘Se a Rua Beale falasse’ leva às telas ‘melancolia negra’ da obra de James Baldwin
Em seu novo filme, ‘Se a Rua Beale Falasse’, o diretor Barry Jenkins prova que seu cinema é, estética e narrativamente, permeado pela melancolia. Mas o longa não trata exatamente do sentimento como o conhecemos, associado à tristeza e depressão, e sim de uma emoção com poder transformador, que possibilita a reflexão. A obra, baseada no livro do escritor James Baldwin, estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas.
No longa, o jovem negro Fonny é preso de forma injusta após ser acusado de estuprar uma mulher latina na Nova York da década de 1970. A narrativa acompanha a luta de sua namorada Tish, que está grávida, e da família de ambos para soltá-lo, ao mesmo tempo em que explora o relacionamento e as dificuldades enfrentadas pelo casal.
Com esse foco no cotidiano e relacionamentos dos personagens, Jenkins – que também dirigiu o vencedor do Oscar ‘Moonlight: Sob a Luz do Luar’ (2016) – se firma como parte de uma nova onda de diretores que buscam dar destaque à humanização dos negros em suas obras, com conceitos como respeito, solidariedade e família, vividos mesmo em condições adversas.
‘Se a Rua Beale Falasse’ foi indicada a 3 Oscars: atriz coadjuvante (Regina King), Trilha Sonora e roteiro original (Barry Jenkins). A produção combate uma das faces mais danosas do racismo, a que nega a possibilidade de os negros, como seres humanos, serem múltiplos e terem ações contraditórias. Frank Hunt, pai do protagonista, é um pai amoroso, referência de humanidade para o filho, mas que em determinado momento agride a esposa.
Em outro ponto da narrativa, os pais dos protagonistas se unem para aplicar pequenos golpes, com o intuito de juntar dinheiro para pagar a defesa de Fonny. O cenário reflete uma tentativa de incluir na obra figuras reais, sem idealização ou mártires. O roteiro de Jenkins destaca o óbvio: essas pessoas são humanas.